quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Abstração

uma contação de vazios de agora
absorve-me dos instantes
enquando escuto a memória
que escorre
a constelar água d’olhos
com reflexos
de todo um existir

há um hiato 

onde o silêncio
desenha uma  vida
– mínima vida minha –
em fração imensuravelmente atemporal
– absoluta

enquanto se equilibram passos
isentos de peso
vertiginosamente voláteis
enquanto voam
aqueles pássaros
sem asas
sem nuvens sem horizontes
enquanto dedos cintilantes
percorrem
a carne a palavra a essência dos lábios

enquanto se percebe
que viver adere poeira e fogo e água
e que a pele cala fundo
– bem lá – onde não mora a razão
cada toque de luz
cada sombra cada gota
e a rubra mudez de cada pecado

(Celso Mendes)

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Mais uma estória de uma noite sem fim

era a estória de uma noite
não uma noite qualquer
era uma noitestória de amor
onde estrelas miravam-se
vaidosas
e disputavam seu luzir no negro das águas
hipnóticas

era uma noite, percebam, única
uma minhaestória
em que o fogo permanecera guardado no céu da boca
e as palavras
paralisadas
eram apenas silêncio de cometas
a rasgar lembretes
nuas de parênteses

era uma noite urgente
era uma estória onde o lume da ausência
acendia a mais recôndita sombra da memória
na mais escura das noites videntes
que passou por mim
e ficou
calada

era uma estória sem fim e indefinível
de uma noite indefinível e sem fim
ou
talvez
apenas uma noite de renováveis esperas
e solidão

era uma noite, enfim
era uma noite assim

(Celso Mendes)

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Breve cantiga para mais um anoitecer

cada gota de sombra
faz a noite pousar
pele sobre pele
enquanto as palavras se aninham no silêncio
[o silêncio fixa sensações]

recolhem-se as flores que adornavam o vento
aromas são lembranças do desejo do pólen
e no escuro se guarda cada fóton sentido

[o mundo cabe numa pupila
ou num trecho de epiderme]

(Celso Mendes)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Compasso de espera para abalar raiz e verbo

 
[c]
um desalinho sacode a placidez  de templos e olhos
expurga a retidão do traço que se queria limpo e breve
inverte a polaridade deste horizonte injetado de sangue e de buscas
inventa um azul que adere incontrolavelmente
sob pés que desalcançam o chão
ao tempo que se rompem lábios siameses
e irrompem-se línguas bifurcadas

é quando a palavra reveste-se delírio
imagens calcinadas em pele árida reinventam-se gérmen
memórias atemporais perfiladas na rocha desorientam grafites

pólen de girassol
lua laranja
gosto de alcaçuz
sol e noite
orvalho e argila
trilhas e nuvens
estrelas na boca
brilho e silêncio
viagem

é quando o delírio ampara-se na palavra
levita
recolhe-se
e sonha
«real»
[c]

(Celso Mendes)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Desexplicações, inutilidades e desconhecimentos

aqui, sem um porquê, eis-me, a catalogar inutilidades e a fazer apologia da utilidade do desconhecido, do não saber para procurar. espero destas palavras nada além de um alvoroçado desentendimento, um gotejar de sílabas perplexas ao perceber seu próprio significado num plano que se estende além da linha de uma razão que não pretendo. até gostaria que elas falassem do contemplar horizontes como o mar contempla o pássaro ou a montanha contempla a árvore. gostaria, mas não creio que consigam ser tão desimportantes assim. mesmo porque não quero do albatroz o voo; quero o olhar. o plácido, belo, amplo, mas limitado olhar (meus limites fazem parte da minha infinitude). também ando a dispensar ruídos que não sejam música. prefiro continuar abarrotado de silêncios cúmplices, ensimesmado com este vácuo de sentidos plenos a serem ativados, que me amortalham a mente das sobriedades de um superego capenga e me revestem de saborosos vazios. vácuo de sentidos plenos para a água e para o fogo. preciso, necessito exorcizar convicções. e que um dia me livre, vez por todas, de todas as certezas que já construí. minhas inconsistências, celebro a cada momento. alimento-me de minhas dúvidas. e minhas incertezas acato como as minhas verdades. assim sigo. capto sensações, guardo as que me aprazem, convivo com as demais, sobrevivo com o que a vida me oferece. e a vida nada mais me oferece do que vivê-la. este é o tempo. a morte é atemporal.

sábado, 12 de novembro de 2011

Sobre voos e ubiquidades

no voo do pássaro
a pseudoubiquidade do peso
sopra-me
os olhos
alados
como chumbo
enquanto
permaneço
chão
no azul
e me avenho
com o vento

(Celso Mendes)

Breves reflexões sobre o imponderável existir


Renovação

é na descontrução das coisas
na demência do pólen
e do sêmen
na incontestável efemeridade
de cada pele
de cada pétala
que se nos afronta
a vida

(Celso Mendes)

Física

pedaços
de luz
caindo
sob um olhar
sempre me enternecem

[viver é interagir energias
captá-las, essencial]

(Celso Mendes)

Sem escolha

inevitável
cada minuto
insofismável
cada mudança
indescritível
cada pulsar

e a vida bate na cara

(Celso Mendes)

sábado, 29 de outubro de 2011

Ruídos de um silêncio sobre luzes imaginárias


cacos violeta de um caleidoscópio
ecos, reflexos, cacos
giros violeta de todas as cores

de repente a visão, mas não há imagem
e o que eu supunha indelével
eram apenas pegadas em tempestade de areia
apenas o início do precipício
um lapso negro
do dia mais brilhante
do que eu previra primavera

há momentos em que a estrada escapa-me dos pés
como se engolisse o olhar de aves migratórias fora de seu rumo
em rotas tortas que indeferem sentidos
como o decidir a revoada dos dedos que seguram as asas em silêncio
a calar sobre costas que pesam cem milhões de lembranças

de repente a visão, não a imagem
há momentos assim
impregnados da descoberta da verdade doída da ilusão
de se palpar o irreal
de se enxergar o que não há
mas há
assim

(Celso Mendes)

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Vertedura

porque verte
tanto e tanto
há o encanto
da palavra bruta
em saliva lascada
massa de poema a ruminar

imagens germinam e dançam
no céu vermelho da boca
sonho ante sonho
verbo pós verbo
[desde a raiz da língua fendida]
enquanto não coagula
a seiva
exposta a  luz
ou a sombras

e assim se fez
e assim se faz
e se fará

decantação

(Celso Mendes)

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Movimento em si menor

por não ter onde ir, cá estou
e espero que o final seja breve
que se molhe o silêncio a fio de lâmina
que se rasguem pedaços de nada até sangrar o branco
e que se aplaquem os vazios
destes meus olhos
que têm sede

(Celso Mendes)

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Abstrações sobre estrela, queimaduras, pérola e cicatrizes

há dias em que todo escuro
escorre em minha saliva
e eu digo da ausência da palavra
e eu digo destas auroras-abismo repletas de vazios
dos mergulhos por onde me embrenhei
das manhãs e tardes insanas
à espera do consolo da noite
quando em minhas mãos
eu tinha a esperança do teu tanto brilho
a queimar-me as palmas

são nesses dias que recordo
ante o precipício de espanto das minhas midriáticas pupilas
o lado negro do arco-íris

sim, toda pérola tem a lembrança da areia úmida
e toda luz já foi matéria em combustão

e este canto não é um lamento
é apenas a memória de um tempo
em que te imaginavas minha
qual uma estrela que me caia
mas me feria
ao tentar reter
nesta brevidade de ser
a eternidade
do teu calor
a tua luz

(Celso Mendes)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Setembro (reedição)

Aqui, deste setembro que não tem me deixado tempo para escrever novos textos, busco, de um setembro antigo, algo que preencha este espaço que se quer de letras.

      Setembro prossegue-me vago. Por ser um cultuador de palavras simples e frases rasas, dessas que descansam em beira de riacho, não compreendo bem o porquê. Mas sinto. Enquanto lavo meus olhos na poeira, aguardo a chuva que leve as folhas secas de agosto. Aprendi que retas perfeitas não existem, mas não consigo evitar a curiosidade de saber onde estão os pontos à frente. Isso machuca, sei bem, como sei também ser impossível evitar a dor.
      Houve um inverno que me roubou o vermelho e com ele fugiu o arco-íris das tempestades de verão; perdi uma flor. Marcou. O pó foi a cor que passou a me pintar. Até as maritacas que me acordavam toda manhã andaram ausentes. Agora volta, mais uma vez, a promessa de primavera. Já nem sei mais se acredito em primavera. Talvez devesse.
      Mas um setembro já me deu o que mais amo e outros também me trouxeram presentes. Sempre esperarei algo de setembro. Quem sabe este me umedeça novamente. Mantenho a água na memória. Meus olhos cansados permanecem abertos, continuo amanhecendo e não perdi essa mania de sonhar. Acho que ainda acredito em primaveras.

(Celso Mendes)

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Resposta

a meu filho Luís Paulo

estou passando
deixo rastros
odores
sabores
mas, e as flores?

estou partindo
mergulho no vento
o que já fui
não sou
ficou
mas, e as dores?

estou chegando
novamente deslizo
em ondas do tempo
equilibrando-me
sob chuvas
luas
e sóis
mas, e o porquê?

não paro

se voo
nado
ou caminho
pressa
não cabe

só continuo

alguém ainda me espera

(Celso Mendes)

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Infinitudes de um passado em expansão


bebo do sol deste céu
deste sal que me escorre negro
deste lamento turvo e rubro
a arder-me a voz plena de sombras
do mais distante
do mais longínquo
do mais pretérito
arrebol

eu sei, eu sei
sei sim
que vento em pranto
é tempestade
que só

assola lírios inconsolados
pela palavra que queima
e alimenta
a imagem ferida
do entardecer
que silencia
cada dia

e é assim

afago
manhãs
e afogo
crepúsculos
agonizantes
na escuridão
de noites sem fim

bem aqui
aqui em mim

(Celso Mendes)

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Algia Temporal


De tanto pensar
em círculos,
voltando pro mesmo ponto,
meus neurônios
fasciculam,
como o tremer descontrolado
de minhas pálpebras
latejando minha lucidez,
como um coração que fibrila
estagnando o sangue
nas veias,
como o bater impaciente
de meus pés
esperando
o não sei que.

Cada minuto
atravessa-me
do lobo frontal
ao hipotálamo,
perpassando a região temporal,
e dói.

Mas não lamento a dor já sentida.
Queria apenas soltar as amarras,
desvencilhar-me desta imobilidade,
para que os minutos futuros
não fossem tão iguais...

preciso desfibrilar esta algia temporal

(Celso Mendes)

sábado, 27 de agosto de 2011

Impressão boêmia e entorpecida sobre a rua, postes e afins


o vinho bate vermelho em minha ideia anoitecida
a madrugada flui seu sereno em telhados embriagados
palavras flutuam consignadas no silêncio da bruma
a sombra conforta o sono das cores adormecidas
e meus olhos
mentindo-se impassíveis
registram o reinado das mariposas

(Celso Mendes)

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Motivo algum?


como agarrar as capas transparentes da brisa
não fora o vão?
como flutuar nas noites em descaminho
não fora a luz?
por que, afinal, transito entre a matéria e o nada
não fora o espaço?

(Celso Mendes)

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Balada para musa desaparecida em noite paranoica


não há paixão que sobreviva nesta calçada
onde teus pés de salto agulha feriram o concreto
e poças de lama preenchem os buracos
que escondem o sangue jorrado
dos últimos colibris de asfalto

não há mais passos em frente desta janela de bar
que não lembrem teu hálito de espuma
vazando pela veneziana
como serpente
a procura de pupilas escancaradas

não há mais amor nesta alameda em desatino
destino de alucinações desencarnadas
que não sopre o reflexo apagado de pirilampos
que já foram olhos

já não há mais a saliva espargida do teu canto
a deixar o brilho de teu rastro estéril
à porta destas casas
já acostumadas a hábitos cetônicos
hepatotóxicos
agora órfãs
de tua corrosiva doçura
etílica

nem há mais lua nesta rua
onde pisaste
e agora jazem as estrelas

ao fundo
opaco mundo
e apenas blues

(Celso Mendes)

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Coisas que se pensam ao entardecer


um sopro
e a noite deseja
sorrateiramente
ocultar o ruído da luz com a sombra do vento
enquanto
à toa
eu brinco com palavras que apanhei à tarde
no meu quintal

se elas pingaram das árvores
ou do bico de pardais
tanto faz
se caem em minhas mãos
eu brinco
e engulo
e brindo

bem sei que o tempo teima em escorrer
mas quem sabe ainda aprendo a língua dos passarinhos
antes de conseguir voar
antes de escurecer

(Celso Mendes)

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Breve motivo para se viver o rubro



no bálsamo que alicia olhos
um fulgor de olfato que embriaga
e altera os matizes dos sonhos
como poeira quente que penetra poros
a tingir de febre o sangue que se espessa
como a explosão daquele instante mudo
que fere acutilados e reticentes silêncios
como aquele engasgo que se quer um grito
mas sempre
se prende
em círculos, ciclones
e bocas de estômago

no que a carne sente
nestes alardes de tinta e nó
um tanto de espanto
um tanto só
[momento é pó]
que arranha o contorno da íris
e se esparrama na pele que enrubesce
tão breves segundos
breves tantos quanto vida
que brevemente os guarda
em cofres-memória
fadados a se esvaírem
na infinita
brevidade
de ser


(Celso Mendes)

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Sobre dor ou prazer

flores de fel
soletram pétalas
em tímpanos perfurados
crivados de desejos

é que às vezes o amargo
parece mel

(Celso Mendes)

terça-feira, 26 de julho de 2011

Os Cinco Sentidos e uma Sombra

escutar
a pele
implorar
o toque do segredo

ver
o vazio
de um olhar
preencher de aromas o sonho

sentir
a cor proibida
do prazer
escorrer da própria mão

inalar
o gosto
de um sugar de línguas
emudecendo olhos

degustar
palavras
remidas
de falsas mentiras

e perceber
resignado
que os passos
silenciosos
do desejo
só andam ao lado

um desejo resumido a uma sombra

CELSO MENDES

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Urso Polar



Sou tão somente o que queira que eu seja

Um inimigo se suas setas não me alcançarem
Esses destroços do que os canhões não atingiram
Um companheiro se sua adaga me ferir
A lua nova dos que já não precisam luz
E este inferno onde o escuro brinca de pirilampo

O que quiser, eu sou

Uma montanha se quiser me atravessar
Um precipício se este azul escurecer
Um oceano se todas as nuvens queimarem
E o dono deste segredo que sempre me acompanhou

Sou o fantasma que quer roubar os seus sonhos
Sou um gigante rastejando pela bruma
Um transeunte perdido em vôos solares
Aquela árvore que repudia raízes
Aquele rio que leva todas as folhas

Mas se quiser, eu posso ser
Apenas um monte de lã branca

Se sua aura não me der esse calor
Sua saliva não matar a minha sede
E sua lágrima não for

Minha
         Água
                Gelada
                         Onde nado
                                    A alimentar-me

(Celso Mendes)

terça-feira, 19 de julho de 2011

Do porquê de voos

E então houve o encanto. Se figurado, fulgural ou acidental, não sei. Sei do entanto que me desgarrou dos sentidos as impressões e se desejou. Tornou-se tanto. Apegado à terra e à água, fiz do vento pousada. Dói a beleza que não incendeia, como fogo fátuo em olhos rasos. Daí a procura pelos segredos e pela cura desta sanidade. Não bastava enxergar pedra na rocha; urgia ver a aura mineral. Querer do concreto o etéreo e do onírico um denso rio de palavras. Foi assim que se fez e assim continuou. Eu vi o encanto. E ele me sorriu.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Adágio para breve sumiço


tem dias que o mundo não me cabe
não me adentra
escorre-me tal breu sobre pele
e perde-se antes da imagem primeira

hoje uma coruja me engoliu com seus olhos de rapina
depois seu pio emudeceu
no canto escuro
de uma noite qualquer
onde eu sumi

(Celso Mendes)


segunda-feira, 11 de julho de 2011

Revisando conceitos


Esse desmanche de fetiches sob meus pés ferem-me as retinas
e hoje eu não estou para limonadas.

Pouco me importa esse seu olhar enviesado
a atravessar meu semblante interditado;
tudo não passa de um espetáculo improvisado
onde citronelas se defumam lentamente
espantando mosquitos, besouros sensíveis e transeuntes anônimos.

Repare nas minhas mãos esburacadas:
elas estão vazando e não consigo mais
segurar suas mentiras nem meus delírios.
Perceba, minha fome está voltando
e meu desejo de devorar feitiços se manifesta
em cada serpentina
lançada de antigos carnavais.

Hoje eu posso digerir o fogo dos dragões sem queimar minha armadura.

Estou jogando as cartas para o ar a espera da mágica;
não se iluda, que a inocência já se foi há muito.
Agora eu vou morder a mesma víbora que me picou e sorver o seu veneno.
E o deleite é nosso, meu amor.

Então vamos, que o inferno ainda não chegou e temos muito o que morrer.


(Celso Mendes)

terça-feira, 5 de julho de 2011

Vago (reedição modificada)


um poema gelado
de palavras mudas.
um verso solto, sem abrigo,
o zunido do silêncio
que se quer luz.
a busca, sim a busca.
uma lógica de vidro,
frágil, cortante, invisível, quebrável,
e as folhas de uma canção distante
a soprar-me os pés.
a companhia dos sonhos sugere que estou vivo.
um cão; há calor.
percorro o teclado,
roço olhos em cristal líquido,
renego os sentidos.
e as letras insistem
num significado
que não sei lhes dar.

(Celso Mendes)

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Da temporalidade

poema publicado no blogue Trem da Lira, da minha amiga Cris de Souza, por ocasião de seu Sarau Festivo em homenagem ao aniversário do poeta e artista plástico Marcantonio Costa.

pescador de palavras
o poeta cultiva silêncios
domina o idioma visceral dos interiores
conhece os rios que navegam sistemas límbicos
e sabe da água, que sempre corre a-mar
mas volta lacrimosa chuva
nesta azul temporária vida

(Celso Mendes)

terça-feira, 28 de junho de 2011

Sobre guardar estrelas


de tanto mirar
há um pedaço de céu caído em meu cristalino

agora
para onde olho
vejo uma estrela

(Celso Mendes)

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Um quase inverno


o outono só esquenta as vísceras enquanto dorme
só avia pecados em segredo e silêncio
enquanto ora, dissimulado, às folhas secas em escalpo de rosa
pelo espinho que murcha, mas ainda fere

o outono só aquece em olhos úmidos
seca-lhes paisagens sem lhes roubar a vida
como a impor a dor na sombra de uma translação
onde o frio flui impiedoso e ocre sobre cabeças e pés
inabaláveis ou frágeis

o outono só é quente em minha mente insana
que insisto balançar a um sol detrás de um muro
e tranco junto a sonhos findos e repaginados
quase adormecidos, imobilizados
pedaços de um passado a me planar impunes
prensados pássaros sem céu
sementes pálidas sem broto
luz que se aprisiona a espera do inverno tão próximo

não, meu outono não é quente, ele mente.

(Celso Mendes)

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Sobre frutas e corredeiras


deste teu olhar de pingo de jabuticaba em fruta-carmim
[pomo de dar fome em olhos meus]
abasteço-me
teço sonhos, enfeito ares
broto-me água de pedra ressequida
e fluo-me a ti

navegante e rio
rasgo leito rochoso
a debulhar as folhas
[que te ofertarei verdejantes]
das margens deste trajeto
rumo cachoeira/lago-alvo
onde nadarei
cegamente
teu sal
e me afogarei
sôfrego
em teu sol

(Celso Mendes)

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Busca fugaz por resquícios de versos e sonhos


este arremedo de pensamento que me assola
estanca preces
robotiza quimeras
volatiza desejos

havia um tempo
em que os sentidos eram rubros
mas os dizeres eram vãos
e cada frase surda
escondia sua poesia
atrás de dispersivas pupilas

agora é o nada impresso nos dentes
a mastigar silêncios
de um discurso mudo
cansado e desconectado

aonde pousaram
as palavras
que te lancei
a cada olhar proferido
e que se perderam
como fécula em boca nua
como férula a ferir espaços
como ímã em contramão?

(Celso Mendes)

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Azul

Queria o azul. À medida que se encantava, adentrava-o, cada vez mais denso e escuro. Queria mais e mais azul. Queria as preciosidades bem do fundo do azul mais fundo, que o atraia, traiçoeiro. Havia verdes no seu caminho, mas era o azul que o cegava. Era o reflexo do céu na escuridão abissal. Imensamente azulado, vertiginosamente fluido, seu mundo bailava cada vez mais cobalto e paradoxalmente mais brilhante à medida que mais sombrio. Compreendeu por que o amarelo era passado, como folha de um velho livro. Entendeu por que água era essência e presente. Vida. Só não percebeu sobre a dose. Bem que o rubro na face quis alertá-lo dos vermelhos no caminho. E tudo girava, comprimindo-lhe os sentidos. Lembrou-se do dourado do sol, do sorriso materno indescritivelmente meigo, dos campos floridos, dos amigos a lhe pular nas costas, de estrelas, de estradas, de voos, dos peixes e dos monstros, que deixava para trás enquanto mergulhava até o seu limite. Atingiu o sonho, torporoso e maravilhado com toda aquela magia anil à sua volta. Sentia braços o envolverem, insistindo para que ficasse. O medo durou pouco. Adormeceu; profundamente. Depois flutuou eternamente leve, como pássaro planando um azul todo dele.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Sopro


oh, fole da palavra-fogo
aplaca este gelo que me fere a língua
derrete esta casca que me oculta o lírio
ora pela asa, pela casa, pela roupa seca no varal
pela tenra semente do alcaçuz
pelo broto de sílica no quintal
pela unha rasgada a punhal
pela contumaz mudez imposta à carne

ora, ainda, pelos gritos engolidos
[ou perdidos em buracos negros]
pelos lábios costurados a fios de aço
pelo corte na cartilagem cricóide
pelas ranhuras neste corpo caloso
pelas feridas
pelas cicatrizes
e pelos meus olhos alados
que não se querem pousar

(Celso Mendes)

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A escuta

onde a voz aponta
e o dedo alcança
sangro esta palavra
em riste, como peito
em lança sem escudo
como água em pedra cristalina
como o rugido do fogo
silêncio de horizonte sem auroras
bocejo de luas amanhecidas
solares sorrisos de criança

nos lábios, as digitais
nos olhos, o viajar repleto de sílabas
nas falanges distais, o início

e quando o grito rompe
o eco das estrelas
calo
contemplativo
a escutar o ruflar do universo
pulsando infinitos

(Celso Mendes)

Sobre o que fere

a navalha é a mesma e está rubra
escorre o fel de línguas fendidas
de lábios carmins
de olhos vermelhos
caminho sem volta ao inferno
cereja num copo de vinho
cascas de maçã
rosas de Hiroshima

a navalha é a mesma e está bruta
escorre ao léu em raízes perdidas
de um corte no branco a vazar os seus nadas
rasgo radical na lúdica lucidez
cúmulo cinzento no palato plúvio
poda no verde de um verbo
um silêncio gris
o escuro do giz
muros de Berlim

a navalha é a mesma e contém cicuta
escorre no céu de bocas despidas
no frio do fio um fonema letal
tal arma fatal em dentes alvos
mensagem que ecoa em asas pardas
voo subterrâneo num corpo sem pele
viagem sombria no fibrilar miocárdico
vida sem sol
pulso sem luz
pó de torres gêmeas

a palavra é navalha
e está cravada

(Celso Mendes)

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Círculos


Deitava o vento com a boca amordaçada. O seu silêncio era imposição dos girassóis que refletiam-lhe os braços, as mãos e seus dedos amarelecidos. Mascava o sol dia pós dia, desconfiado, e se sentia cada vez mais enraizado. Gostava do azul das manhãs e do laranja das auroras. O marinho da noite o embriagava. Mantinha, secretamente, olhos de nadar estrelas. A lua costumava tocar suavemente suas costas até que adormecesse. Após isso era a o medo da treva, era atrás dos astros, era depois dos sonhos. Se houvera luz, não se lembraria. Mas o tempo sempre lhe foi muito orbital. Não entendia por que as coisas tinham essa mania de orbitar. Retas, pois sim, retas eram apenas uma eterna ilusão de caminhos; nunca mais o levavam a um novo que já não conhecesse. E foi assim que, mais uma vez, o sol se desprendeu do seu bocejo, preguiçosamente. Ainda não era a hora da escuridão.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Sentidos e Direções (II)



guardo, neste embrutecido coração
a visagem dos dias que amanheci
dissecados nas noites
[sinto]

tenho cá
cada paisagem
cada andorinha
cada cena
todos os olhares
o azul, o azul, o azul
[voo]

minhas árvores
têm no verso das folhas
as cores empalidecidas
das flores que pintei
[levo]

sim, e teu sorriso
despetalado
sobrevive-me
arranha-me
machuca
[chovo]

escorro
regatos
paredes
janelas
estradas
miragens
pedráguas
[ouves?]


ao fim do delírio
espera-me
o denso-oceano-destino
a fundir
os fluidos do mundo
[vês?]

(Celso Mendes)

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Incompletudes


já tenho em minha carne
o rangido franco,
frio
e solitário
das horas
indivisíveis.

não mais
me demoro os dedos
sobre o fio da faca
na tangência
de um tempo
que não tenho,

pois que me adormece a luz
nas mãos espalmadas,
privadas de palavras
em um silêncio imortal
que se imprime absoluto.

abasteço,
recorrentemente,
a incompletude desta loucura
com teus olhos fugidios,
insistentemente sádicos

: olhos de amassar maçãs
e envenenar riachos lacrimosos.

e é quando as auroras
se transfiguram
em dias cinzentos
que me doo à chuva.

neste então me voltas,
sob a rama deste ipê,
tal um espectro
entre pétalas violáceas

a me contar
que inda existo.

(Celso Mendes)

domingo, 1 de maio de 2011

Janelas(II)













um outro dia
outros detalhes
um outro vento
outros olhares

cada janela tem sua história
cada paisagem
a cada tempo
uma memória

eu na soleira

(Celso Mendes)

Passeio (repostagem)


hoje visitei a beira do abismo
eu e meu jeans

no fundo, sempre achamos que o tempo não iria passar
acocorei-me sobre o limbo que cobria o chão que pisava
abotoei uma borboleta amarela na lapela
cobri-me daquele sol desbotado e velho
apanhei um cogumelo solitário que insistia em crescer na pedra
cheirei duas nuvens passageiras
mas resolvi não olhar para o espelho do mar

e o azul acima da minha cabeça sempre me desafiando

resolvi seguir pra lá

estou cansado de tentarem me convencer que envelheço


(Celso Mendes)

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Poemeto de consolar que se ama

 







eu te adormeço pouco o pranto
o pouco quanto tanto tento
e te desenho boca ao canto
um teu sorriso
encanto
intento

(Celso Mendes)

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Entre o espanto e o nada


Existe uma lânguida poesia enclausurada neste portal,
um borrifo de pensamentos anacrônicos, obsoletos,
versos velados marcados de cores e odores habituais.
E existe a poesia calada do cancro infiltrada nas vísceras
a apodrecer palavras reticentes;
um engasgo bruto, uma turbulência de rompantes na língua.
Existe uma língua querendo tornar-se idioma,
um pássaro pousado,
um matiz de arco-íris no meio da noite.
Existe a palavra pingada no oco do céu de uma boca pedindo socorro.
E o poema perdido que ora berro
é só uma mentira
trancafiada
entre o espanto e o nada.

(Celso Mendes)

sábado, 9 de abril de 2011

O segredo


irrompe o dia,
assim, como por muito insistir,
a destrancafiar-se da longa noite
onde o pesadelo ungia sonhos
e a boca louca balbuciava
desconexas verdades imperfeitas, assim,
como todas as verdades.
irrompe o dia
enquanto a lua derruba sua tristeza
encharcada de nuvens, estrias de ventanias,
de sombras incandescentes; comovida com a desesperança
que resta sob esta pálida luz bipolar.
irrompe o dia
a suplicar o novo, a suplicar de novo a todas as esquinas
para que não se virem, assim,
súbito, e para que as palavras não fujam por entre caules de
árvores outonais, desguarnecidas de folhas e flores, assim,
sem registro, mudas, inaudíveis.
irrompe o dia
a desesconder esconderijos, rotas de fugas fúteis,
inúteis navegares.
irrompe o dia a farfalhar fantasias vencidas
e a destruir as máscaras intactas de um tempo pretérito.
irrompe o dia no eterno aguardo da nova noite,
definitiva.

(Celso Mendes)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Escotoma cintilante

teu vulto vívido
povoa-me
os olhos
híbridos

lúcida loucura
desta
reticente
retina
que insiste
aprisionar
passarinhos

(Celso Mendes)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Saber do voo


eu faço versos de voos
que nem sei voar
e me arremesso às rochas
onde o silêncio me compreende.

(Celso Mendes)

quinta-feira, 31 de março de 2011

Cansado de voar


tenho percorrido mundos que não me pertencem

já trafeguei escuros e luzes
a transfixar auras indivisíveis de meus demônios
por entre oníricos corpos celestes
seus totens e meus tabus

perdi-me em abismos
de onde nunca mais parti
planei por saídas que aprisionavam
rompi meus silêncios de aço
ousei sorrisos
sufoquei milhões de prantos

e agora sinto
o cansaço das asas que migraram
léguas e léguas
vida pós-vida

pois hoje eu não queria voar

hoje
eu só queria
pousar em teus olhos

e adormecer

(Celso Mendes)

terça-feira, 29 de março de 2011

Interzona

palavras insolúveis passeiam em minha noite
infestadas de estrelas, aromas e pios de coruja,
ao tempo em que a boca esboça versos
que se prendem na zona de luz
e as mãos amassam coágulos de vida.

amanhã talvez eu percorra outras vitrines
e arranje um sorriso novo para este lamento
alojado em minha epiglote. não sei porquês,
mas sei que assim é, pois sinto o tato rubro de uma saudade
acariciar-me a nuca e entristecer-me o azul.

mas não há amanhãs, amanhãs são apenas sonhos:
prendo-me às ervas daninhas da relva rasteira
para não deixar meus cacos à deriva
enquanto meu corpo cansado bate nas pedras da corredeira
a colecionar hematomas que são só meus
e guardo com carinho. visito apenas caminhos que pisei
à espera de que a lua me embale o sono.
visto-me da mesma pele de sempre
adornada de conhecidas cicatrizes. acomodo-me,
aguardo o acordar com novas marcas.

neste então,
flutuo entre a relva e as pedras.

onde estariam aqueles versos da zona de luz?

(Celso Mendes)

sexta-feira, 25 de março de 2011

Estrangeiro


navego
por entre areia e fumaça
a deslizar as lágrimas
e o fogo
dos não olhares.

as águas nas fatigadas asas
buscam teu porto;

comigo
o peso de mágoas,
alguns cacos,
poucos sonhos
e a mudez das pedras pensantes.

palavras
apenas
pegadas
(rastro
de pó
em oceano).

a ti,
que me esperas
e me desconheces,
ofertar-te-ei
o meu mais belo silêncio
e este vazio onde descanso
para partilharmos
sós.

(Celso Mendes)

quarta-feira, 23 de março de 2011

Filha da noite

Por onde perambulam os sonhos de milhares de meninas e meninos?

há uma ruptura neste azul que te acinzenta
e te empalidece os olhos
sob o frio deste sol
a iluminar
mais uma manhã que não sorri

migalhas de gemidos
dançam
nos vãos de teus dentes amarelo-tabaco
sob a vertigem de estrelas artificiais
regada a alcalóides e anfetaminas
de fins de noite
em que luas se cobrem de limo
entre lençóis acres
torporosamente revirados
e fumaça

resta o vazio
a latejar ouvidos
o corpo cansado
ranhuras de amores fantasmas na pele
um choro no esôfago
e sonhos de princesa
trancafiados na masmorra
dos dias

amanhã
talvez
um talvez indolor
uma flor
nova cor
amanhã
de manhã

talvez

(Celso Mendes)

segunda-feira, 21 de março de 2011

Iluminado


onde a voz alcança
e o dedo aponta
sangro esta palavra
em riste, como lança
em peito sem escudo
como pedra em água cristalina
como fogo
como o silêncio de noites sem duendes
ruído de dias enluarados
auroras de crianças a brincar

onde se perde o grito
calo
e contemplativo
escuto
o ruflar do universo
pulsando infinitos

(Celso Mendes)

sexta-feira, 18 de março de 2011

A cor do remédio


Hoje amanheci chovendo.

E a mesma garoa fina, que me acinzenta os ossos,
também descolore minhas retinas
e escurece-me a voz úmida,
que nem é mais rouca
posto emudece,
solitária.

Minha angústia se cerca de pessoas em preto e branco.

Mas, no corredor sombrio
dos que esperam por socorro,
um sorriso de cabelos vermelhos
salva minha vida.

(Celso Mendes)

quarta-feira, 16 de março de 2011

Fumaça


arrasto comigo uma sede
de cenas que não vivi
de barcos que já partiram
de peles que não senti
arrasto uma linha pendendo
pras bandas do fim do mundo
que escorre a cada segundo
nas brechas por onde adentro
e levo dois milhões de olhares
mil bocas que não beijei
imagens que guardo lá dentro
e um rastro que não deixei

(Celso Mendes)

segunda-feira, 14 de março de 2011

Alado


aniquilar o vácuo com palavras pérfuro-contundentes
impactar silêncios plúmbeos, machucá-los
retirá-los dos galhos mais altos
do inconsciente mais fundo
do limbo, de um palmo de mão

mergulhar segredos repleto de odores
expor nos calos da língua o veneno
a rubra saliva do verbo rasgado
a pingar em fornalhas de abismos
o sangue do idioma lambido na faca

exprimir toda eloquência do advérbio
enquanto o peso de um verso
se perde
e flutua oceanos
em asas de unicórnio

arrancar a poesia pela raiz

(Celso Mendes)

quinta-feira, 10 de março de 2011

Cantata


eu tenho uma saudade circulando nas veias
saudade que gira, que me entontece
uma saudade que me compõe
que se me impõe

fora de mim é frio
o amor que esquento entre as vísceras
escondo das hienas

fora é frio e o vento fere
pele sobre pele
enquanto minha poesia se dissipa

eu tenho uma saudade que me assusta
e que me aquece

uma saudade no sangue
rubra
amarela
furta cor
da cor que eu pintar

e tenho as cores que quero
e as que não quero
cá em mim

fora é frio, mas tem os lábios
sim, os lábios
tem os lábios que me banham

e das certezas que não tenho
acomodo-as num ventre quente de mulher
aconchego-me

e assim rasgo o tempo que vi
canto horas que ouvi
carrego dias
acalanto magias

(Celso Mendes)

terça-feira, 8 de março de 2011

Minhas Mulheres

Acho que já estamos cheios de pintar mulheres de cor-de-rosa, de mães dedicadas, donas de casa sem opções, trabalhadoras aguerridas que tentam provar que são tão boas ou melhores que os homens. Isso todo mundo já sabe. Acho que precisamos mostrar apenas que mulher é essencial! Eu, pelo menos, não sou ninguém sem as mulheres na minha vida. Respiro mulheres vinte e quatro horas por dia; sou mesmo um privilegiado, tenho-as por todos os lados o tempo todo. Aprendi a ver o mundo diferente graças a elas.
A mulher que me gerou não existe há muito, desde minha meninice. A dor, que até hoje sinto, de sua falta, só foi amenizada graças ao grande presente que a vida me deu de poder conviver intensamente com mulheres como eu convivo hoje em dia. Casei duas vezes, mas na segunda investida com três mulheres de uma só vez, pois recebi como presente de casamento duas filhas já prontas. Aí fiz (ou ajudei a fazer...) um homem: o que mais amo na vida por ser metade de minha mulher. No trabalho sou cercado de mulheres por todos os lados e meus melhores amigos, desses calados, distantes, que leem versos de Horácio, mas secretamente influem... São mulheres!!! Tudo bem, não são tão caladas assim como o amigo procurado de Drummond, mas são minha essência, meu ar, minha água e meu pão, de onde recebo o carinho e colo sempre que preciso. Uso homens pra discutir futebol, falar besteiras e beber uma cervejinha e logo corro de volta para onde me sinto seguro, ou seja, com minhas mulheres, com quem também falo besteiras, bebo cervejinhas e até discuto futebol, mas entendem a vida de uma maneira muito mais completa do que os homens.
Às vezes penso que nossa espécie não deveria se chamar “homem”. Deveria se chamar “mulher”! Mulher macho e mulher fêmea, esta a mais importante na preservação da espécie, claro. Mas isso pouco importa, o que importa é que existam. E assim no compomos.
Pra não começar a falar bobagem, vou encerrar apenas agradecendo a todas as mulheres que cruzaram em minha vida e, sem exceção, deixaram sua marca, que guardo com carinho e orgulho, gravada em minhas entranhas. 

MINHA VIDA = MINHAS MULHERES