quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Janelas


toda lua
que visito
conta-me uma história
e o segredo
guardado
e assimilado
da luz
de cada sol

nunca sigo igual

(Celso Mendes)

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Sentidos e Direções


Uma conversa com o oceano
e a frase-fase de ondas enganando o tempo.

Um verso sujo de limão doce,
uma procura por pitangas
e a leitura triste da lua,
que sabe ser finda.

O não ficar pra sentir
saudade.

Percepções não se compram em roseirais:
jardins ofendem a tristeza
como espinhos de olhos que ferem.

Cegueira de sentidos se palpa com pele queimada.
Camadas de vida se amontoam sob meus dias
e meus pés já não são mais alados.

A contra-mão é a direção, devia vir comigo.
Não quero mais subir montanhas onde o ar é azul
mas, rarefeito, pode dar falta de luz.

Vou voltar três léguas e meia;
a solução se escreve com lápis de cor.
Agora é esperar meu cavalo chegar
e parto.

(Celso Mendes)

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Humor Aquoso


o desenho da chuva
sinuoso
me acompanha
como em um delirium tremens
cristalino
disfarçado de lágrimas
em meu corpo vítreo

foi assim
que de manhã
pensei chorar
enquanto sol

(Celso Mendes)

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Fluxo


        Tenho nas palavras meu escoadouro libertário de aprisionadas impressões. O que flui é o que me abasta, vazão de sentimentos. Desta enxurrada, o que me basta. Se realidades seguem oníricas e sonhos se desejam concretos, eu navego o limiar. E é ali que me resumo em abstrações manchadas de cores, de odores, de toques, dores inexatas, lembranças caladas, olhares disformes, sorrisos multiformes, páginas marcadas, presenças eternas, ausências enormes.
        Uso o idioma dos homens numa linguagem que conversa com o meu universo e que nem sempre sei decodificar. Escrevo sobre o pouco do compreendido e o muito do sentido. Da vida procuro a essência. Da efemeridade de sua poesia, fragmentos.
        Bebo do mesmo tempo que me consumirá. E amanhã sempre será apenas talvez. Mas aprendi a não acreditar em verdades absolutas, então posso estar enganado. Afinal, minhas palavras não pretendem ensinar, apenas se libertar. Há momentos onde o que preciso é desaprender para me reinventar...

CELSO MENDES

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Flores de Baco


mostra-me o convexo de tua mente doentia
espreitando o supremo sumo do corte por onde vazam
desejos
códigos de morte
e vida latente aprisionada em masmorras

abdica da faca e dessa pétala venenosa
deixa escorregar esta frase entre teus dentes cerrados
morde estas palavras vis e cospe teu fel
[adocicado com sangue e vinho
sobre a terra que cavaste

o raso da cova é onde se acomodam as emoções mais baratas
em cima das quais nasceriam flores de Baco

mas a natureza é simples demais para entender
por que as flores se importariam?

(Celso Mendes)

domingo, 2 de janeiro de 2011

Silvia


parar para escutar os passos
de nosso voo

em cada sorriso uma marca
em cada choro uma cicatriz
em cada abraço sempre coube o mundo
em cada carinho um novo infinito

parar para ouvir teus olhos
sentir a voz penetrar-me a pele
o sussurro do toque
a sede

aguardar a boca
guardar a saliva
esperar cada noite que te faz travesseiro
e descobrir que sempre há um novo segredo

é assim que me renovo
no ruído do tempo
no rangido dos entardeceres
e na preguiça
de cada amanhecer
junto a ti

(Celso Mendes)