Tenho nas palavras meu escoadouro libertário de aprisionadas impressões. O que flui é o que me abasta, vazão de sentimentos. Desta enxurrada, o que me basta. Se realidades seguem oníricas e sonhos se desejam concretos, eu navego o limiar. E é ali que me resumo em abstrações manchadas de cores, de odores, de toques, dores inexatas, lembranças caladas, olhares disformes, sorrisos multiformes, páginas marcadas, presenças eternas, ausências enormes.
Uso o idioma dos homens numa linguagem que conversa com o meu universo e que nem sempre sei decodificar. Escrevo sobre o pouco do compreendido e o muito do sentido. Da vida procuro a essência. Da efemeridade de sua poesia, fragmentos.
Bebo do mesmo tempo que me consumirá. E amanhã sempre será apenas talvez. Mas aprendi a não acreditar em verdades absolutas, então posso estar enganado. Afinal, minhas palavras não pretendem ensinar, apenas se libertar. Há momentos onde o que preciso é desaprender para me reinventar...
mostra-me o convexo de tua mente doentia espreitando o supremo sumo do corte por onde vazam desejos códigos de morte e vida latente aprisionada em masmorras
abdica da faca e dessa pétala venenosa deixa escorregar esta frase entre teus dentes cerrados morde estas palavras vis e cospe teu fel [adocicado com sangue e vinho sobre a terra que cavaste
o raso da cova é onde se acomodam as emoções mais baratas em cima das quais nasceriam flores de Baco
mas a natureza é simples demais para entender por que as flores se importariam?
Alguém que percebeu que manipular palavras, rompendo suas significâncias triviais, pode revelar muitos segredos. Médico. Escrever: um hobby.
Publicações:"TRAJETÓRIAS", pela Editora Utopia, além de participação na publicações da "Segunda Antologia do Bar do Escritor" e também da terceira antologia do Bar do Escritor denominada "BDE, terceira dose".