segunda-feira, 11 de julho de 2011

Revisando conceitos


Esse desmanche de fetiches sob meus pés ferem-me as retinas
e hoje eu não estou para limonadas.

Pouco me importa esse seu olhar enviesado
a atravessar meu semblante interditado;
tudo não passa de um espetáculo improvisado
onde citronelas se defumam lentamente
espantando mosquitos, besouros sensíveis e transeuntes anônimos.

Repare nas minhas mãos esburacadas:
elas estão vazando e não consigo mais
segurar suas mentiras nem meus delírios.
Perceba, minha fome está voltando
e meu desejo de devorar feitiços se manifesta
em cada serpentina
lançada de antigos carnavais.

Hoje eu posso digerir o fogo dos dragões sem queimar minha armadura.

Estou jogando as cartas para o ar a espera da mágica;
não se iluda, que a inocência já se foi há muito.
Agora eu vou morder a mesma víbora que me picou e sorver o seu veneno.
E o deleite é nosso, meu amor.

Então vamos, que o inferno ainda não chegou e temos muito o que morrer.


(Celso Mendes)

20 comentários:

Fred Caju disse...

Assim que eu gosto: quando sou arrebatado logo nos dois primeiros versos!

Ótimo, Celso!

marlene edir severino disse...

[ como se... Enfeitiçado,
reverter a feitiçaria...]

Muito bom, Celso!
A-do-rei

Beijo

Celso Mendes disse...

Este é um poema que andava perdido em meu pen drive há muito tempo, de um tempo que algo me incomodou. nada mais incomoda, conceitos revisados, então fiz uns acertos nele e postei aqui, pra mudar um pouco o estilo...

Anônimo disse...

Muito interessante! Tem bastante do que tenho vontade de dizer. Por isso te ler sempre me revigora.

Beijo.

Tania regina Contreiras disse...

Fred foi arrebatado desde o início, eu fui sendo arrebatada até o fim, passo a passo, sem freio. Um Celso poeta um tanto diferente do que tenho lido, e gostei imensamente. Poem apra ontem, hoje, para esses dias em que tenho muito o que morrer!
abraços, Celso!

Cris de Souza disse...

o deleite é nosso em te ler! nem precisa chamar duas vezes, já que me surpreende...

beijos, doutor da lira.

Batom e poesias disse...

Uau!!!
Denso e visceral.
Eu gosto disso!
Lindo!

bjs
Rossana

Odete Ferreira disse...

Gosto de seu género versejador!
Poema bem intenso! :)

Catia Bosso disse...

Quanta sensibilidade num poema só... Celso, confesso que me senti por um inseto picada, por uma citronela espantada... Adorei! Adorei o poema, claro! rs

bjs meus

Catita

Jota Brasil disse...

Carai véi....que maneiro isso!!!
No seu caso eu diria que chega a ser....agressivo(?)
Surreal, forte e certeiro....
Muito classe, véi...verigudi memo!!!!!

Sandra Subtil disse...

Arrasaste Celso!
Muito bom este poema e o final é quase apoteótico!
Adorei.
beijinho

Maria do Carmo Antunes disse...

Poxa!!! Vim aqui fazer uma reciclagem e acabei fazendo um MBA!!!

Lídia Borges disse...

Celso, este despir de asas está fantástico! Afinal todos temos um pouco de Diónisos que rejeitamos, em certa medida, mas quem reconheceria Apolo sem o seu oposto?

Um beijo

ErikaH Azzevedo disse...

E até a morte, tudo é vida, como diz cervantes...(por mais que se morra tanto e tantas vezes pela vida)...e nessas idas e vindas, como poderemos viver sem nos deixar morrer de amor?

Adoro a tua intensidade menino...enfeitiçado pelo amar...pelo viver.

super beijo

Erikah

Anônimo disse...

"Hoje eu posso digerir o fogo dos dragões sem queimar minha armadura."

Um dia o copo enche e transborda... que bom se esse transbordar fosse sempre em poesia... Perfeita!!!

Beijo

Anônimo disse...

Celso, vejo aqui um anti-anjo-vingado!!!

Bárbaro!

Sem sombra de dúvidas um dos mais aguçados poemas que já li no seu espaço.
Há imagens que tonteiam, pela volta (ou reviravolta) que dão, e nossos sentidos vão atrás, embriagados.

{Parabéns, meu querido amigo que é tão assíduo no acompanhar meu blog, e a quem fico devendo tanto aqui... mas tenha a certeza: nunca venho sem sair impressionada!}

Um imenso abraço.
.
.
.
Katyuscia

OceanoAzul.Sonhos disse...

Celso, fiquei sem palavras... Arrebatador!

Um beijo
oa.s

Anônimo disse...

Estou ainda em pleno voo...
A magia das tuas palavras é encantadora, me deu asas. A agressividade das entrelinhas beira o sensual e esse entrelaçar de idéias, sentimentos e desejos me tirou o fôlego.
É vida pulsante.
Celso, teria imenso prazer em recebê-lo no meu blog para saborearmos um chocolate quente. Quem sabe vc possa me ensinar como digerir o fogo dos dragões sem queimar minha armadura!
Há muito eu busco essa sabedoria.
Beijokas.
Seguindo...

Unknown disse...

Bom mesmo!! Acertou no alvo e disse quase tudo. É visceral quando escreve: Então vamos, que o inferno ainda não chegou e temos muito o que morrer.
Tal e qual! Subscrevo.!
Vamos então!
Abraço aqui deste lado do oceano :)

Mari entre linhas disse...

Esses versos me envolveram pela intensidade. Aos poucos, as mãos esburacadas eram minhas. O amor também era meu. No fim, quem ia era eu.

Lindão.