terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Pele


Às vezes
meu mundo se resume a pele clara e arranhada,
sorrisos doces
e tons de escarlate.

É lá que me perco
e de onde não sei sair.

É onde costumo mergulhar.

(Celso Mendes)

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Inspiração


do que respiro
há um pouco de ar
um tanto de pó
uma porção de vida
e uma fuligem grudenta
de poesia
que me impregna

(Celso Mendes)

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Extrassistolia


não te mirei nos olhos
não retribui tua doçura
não te acusei
pela extrassistolia
que me causas
ao te (pres)sentir

foi em vão:
insistes lancetar meu coração
onde te alojas
e sangra sem culpados
no descompasso
da minha incontrolada emoção

(Celso Mendes)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Escrito


este lamento não tem som
pertence ao silêncio
e se compõe de inconcretudes

estes dizeres não têm forma
são ventanias
mas possuem a franqueza da rocha

se eu sangro pelas mãos
é porque os olhos já calaram
e a boca desconhece
as palavras que sinto

(Celso Mendes)

sábado, 12 de fevereiro de 2011

(De)Limitativos


planar azuis
alçar infinitos
afagar auroras
beber oceanos
navegar
navegar
voar

vá, pensamento
que os limites
pertencem
tão somente
à carne

(Celso Mendes)

domingo, 6 de fevereiro de 2011

O vento, a pedra e o rio


           Agora sopro estava tão tênue que nem mais lhe corava a face. Rasante. Era areia e chão. Amainara a abrasão da ventania. Em vez de voo, passos lentos. Sentiu que o outono passara e o inverno era findo. Setembros continuariam derretidos, mas não mais queimavam em suas mãos. Era estranha a sensação da calmaria. Os cortes cicatrizando. Aquela fotografia insistia ficar, mas já pouco lhe dizia. Não provocava mais tanta ansiedade ou sede; não insistia calar respostas, pois não mais escutava perguntas. E as perguntas, quase esgotadas, acomodavam-se entre a língua e os dedos, em silêncio. E foi nesse contexto que as rugas finalmente conseguiram aparecer, calmas. O olhar inquieto de outrora tentava sorrir, na desejada serenidade. O caminho ainda era longo. Ele sabia dos novos invernos e do frio. E que o fogo é essencial. Sabia da solidão e já frequentara o vazio. Não se iludia. Seguia, apenas seguia.

CELSO MENDES

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Ser de água


Somos todos seres de água e da água, e apesar disso não sabemos cuidar de nossa essência, fonte de toda vida do planeta.

tenho na mente
a memória da água
que me criou
que me lavou
que me saciou

tenho na mente
a água com qual me unges
e a com que te inundo e fecundo
a água que me purifica
circula-me o ar
verdeja-me os olhos
azula meus mares

é essa a memória
que eu queria levar
às nuvens
antes de chover
como tantas e tantas vezes
para poder escorrer puro
de novo
e de novo
e de novo
até secar
de vez

(Celso Mendes)