domingo, 25 de julho de 2010

Pensamentos Tangentes & Inconsistências Afins

eis-me aqui a velar
nu e desprotegido
pela minha consciência
amortecida
amortizada
estigmatizada
enquanto mastigo deste meu veneno

raízes adormecem meus sonhos

cá estou, cá permaneço
em mim imerso
tal um ser ácrono
anacrônico
esquizóide
acronizóico
que vez ou outra
regurgita idéias fugazes
ou sentimentos perenes
em palavras-verso

e eis-me aqui
a velar
por este meu universo
pela minha inconsequência
pelos amores vividos
por esta doce imprudência
e pela jurisprudência
insana
do meu superego
que se me impõe
mas não me compõe

(Celso Mendes)

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Itinerários

paisagens de luz
margeiam a escuridão
superam paradigmas
repelem o falso brilho dos satélites
mas são apenas mais uma opção

cada escolha é um novo abismo a explorar
(o choro do bebê é apenas um começo)

viajar até o limite
mergulhar o próprio interior
saber do espaço infinito
reconhecer o desconhecido
aprender do vazio e do nada
são coisas das quais não se pode fugir

sempre existe um caminho no final da estrada
e todo medo se perde
onde começa o fim

(Celso Mendes)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Revoada


Tua boca já não comove ou remove minha decepção.
Renovo sentimentos contra teu sorriso impassível, engessado,
incrustado em minhas fantasias mais rubras. Teus olhos
negros
teimam brilhar
em meus dias de insanidade
que se repetem pontualmente às treze horas
na porta do inferno.
Inda não acabou. Mas já rasgo o ar
com minha palavra mais secreta de emudecer pintassilgos.
Estou abandonando o meu refúgio. Recrudesça-te
a tua condição do nada que já foste, pois eu irei,
novamente,
à procura do azul.

(Celso Mendes)

Fronteiras

"Entre mim e a vida há
uma ponte partida...”
(Fernando Pessoa)


Tenho navegado sobre duas vidas
duas dimensões
duas fases do tempo

Projeções distintas
verdades partidas
mentiras divididas

Nesta viagem abstrata
em que a espera
confunde-se com a busca
meu voo é subterrâneo e solitário

Eu tenho estado entre dois mundos
entre dois sonhos
entre quatro olhares
trinta e três palavras
infinitas imagens
uma só tristeza
e a única certeza:

do que fui
do que sou
tornar-me-ei
o que me restou

(Celso Mendes)

Buraco Negro

um movimento
lento
e teus olhos desfocaram-se dos meus
no instante
em que este abismo
sugava-me

e a espera de luz
aqui
permaneço

(Celso Mendes)

terça-feira, 6 de julho de 2010

Orbital

verto sorrisos inúteis
para cenas repetidas
entre ações previsíveis
e olhares vazios

percorro pretéritos insolúveis
recorrentes
insistentes
vermelhos
manchados de saudade

ainda não aprendi a simplicidade mecânica
da vida
em torno do Sol

(Celso Mendes)