Sou tão somente o que queira que eu seja
Um inimigo se suas setas não me alcançarem
Esses destroços do que os canhões não atingiram
Um companheiro se sua adaga me ferir
A lua nova dos que já não precisam luz
E este inferno onde o escuro brinca de pirilampo
O que quiser, eu sou
Uma montanha se quiser me atravessar
Um precipício se este azul escurecer
Um oceano se todas as nuvens queimarem
E o dono deste segredo que sempre me acompanhou
Sou o fantasma que quer roubar os seus sonhos
Sou um gigante rastejando pela bruma
Um transeunte perdido em vôos solares
Aquela árvore que repudia raízes
Aquele rio que leva todas as folhas
Mas se quiser, eu posso ser
Apenas um monte de lã branca
Se sua aura não me der esse calor
Sua saliva não matar a minha sede
E sua lágrima não for
Minha
Água
Gelada
Onde nado
A alimentar-me
(Celso Mendes)