sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Fugaz


do pensar
ao dizer
um momento
que hesita
existir
num olhar que agoniza

o tempo engole palavras

a  saliva que seca
murcha a frase
que fica
a vontade que míngua
o gosto
acre
grudado na língua

(Celso Mendes)

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Ser de luz


é vazia de noites
e de silêncios
a casa da luz
que em mim abrigo

vazia de um  endoidecer entardeceres sob carícias perdidas em horizontes
vazia como estes olhos
órfãos de uma película de sombra emprestada ao espanto
em sua eterna embriaguez
vazia como o sol
no aguardo do escuro mistério das palavras que se abortam
que não se criam
que só se sentem

eu reconheço esse escuro
eu reconheço
mas impossível vê-lo
na plenitude de seu nada

e quando o sinto
sísmico
evoca-me lembranças
[novamente a luz]

pele, pele, pele, pele
tanta , tanto
o toque leve
fundo
fundo

quantos segredos partilhados


(Celso Mendes)