eu tinha em minhas mãos o segredo do rio
plúvio
agia com a mais bela insensatez da palavra desregrada
filtrava tua areia em teia de seda
alimentava silêncios
e descomedia paixões
o segregar da luz compunha-me horizontes
de tintas e conteúdos inomináveis
únicos
que entendiam minhas polpas digitais
mas, mágicos, perfilavam-se inutilmente
ante os olhos esbugalhados
de luas
e sóis
não mais te cantei por força
desta mudez inexorável que me aflora
óssea
medular
rude
[e tacitamente tátil]
embrenhei-me nos mesmos versos pífios
que me refletiam
além do mar
além de mim
além do além
aqui
aqui
só
e a sós
me concebi
um poema
um poema meu
e de mais ninguém
(Celso Mendes)