amanheço.
há uma réstia de noite
e o gosto de agosto a me soprar o rosto
a verter da janela.
pilhas de lembranças sobre o colchão
ainda dormem
esquecidas
gota a gota.
na boca o doce e o ácido,
na pele o tempo.
os fios piam seus pássaros
como de praxe.
postes descansam, esquinas acendem.
então converso com o vento. sinto.
hoje soprou-me frio, mas não calado.
pouco sei do lume
que me corta
ou da aridez das palavras segredadas,
mas sei daquilo que exala o vento
e de seu rastro solitário de silêncio.
entardeço sol adentro.
(Celso Mendes)