terça-feira, 13 de março de 2012

Rota de fuga a procura do fogo

porque há buscas e desejos que são atemporais

só peço a ti duas gotas de pólen
que caminhem cores por meu nervo óptico

duas aberturas
no fundo fosco
deste corpo vítreo
onde vaze vida
para um riso raro
neste espaço escuro

só dois grãos de sol incrustados na areia
e um único voo no vácuo da luz
que se perde no espelho
e na lassidão
desse longo degredo
entoado sem voz
segredado nas sombras

só peço a ti duas contas negras e a palavra muda
.
.
.
para eu me atirar
bastam-me teus olhos

(Celso Mendes) 

sábado, 3 de março de 2012

Nova introdução para reedição de mais uma antiga abstinência e vícios eternos


Sem aviso

chegou sem ruído de abertura
volátil
insinuante

inalei-a

[todo vício começa com uma sensação de prazer]


 
Absintismo  
(reedição modificada)

fluida
escorreu-me lenta
banhou-me de olhares
palavras
desejos

bebi da sua cor
colei o seu cheiro
sorvi sua essência
naveguei cada vão
por onde vertia

e nadava-a
sôfrego
ao perceber
súbito
seu sumo destilar-me pele afora
e vazar
de minhas mãos
ocas
que não mais a continha

rapidamente escoou
secando-me um sonho
eternamente fugaz

daqui
em minha embriaguez
ainda absinto-a
intensa
inebriante
fluida

(Celso Mendes)