percebo uma
ruptura que me duplica.
mas sou
feito de ferro e concreto,
fissuras
não me comovem.
já sou azul
e amarelo,
preto no
branco,
e uma velha
testemunha do conformismo.
o sopro que
fere meu rosto
é a prova
da fragilidade desta armadura.
redimo-me
da canção subalterna a um desejo ocre.
e que não
me faltem alfarrábios
para dizer
da crueldade dos anjos,
que
infernizam minhas noites
e
visitam-me nas manhãs opacas
pintando-as
de tons pastel,
feito
palhas que incendeiam sutilezas
e espalham
a fumaça:
ardência
dessa angústia nos meus olhos,
asas que se
queimam em pleno voo
sobre um
chão que já não há.
(Celso
Mendes)