quinta-feira, 21 de abril de 2011

Poemeto de consolar que se ama

 







eu te adormeço pouco o pranto
o pouco quanto tanto tento
e te desenho boca ao canto
um teu sorriso
encanto
intento

(Celso Mendes)

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Entre o espanto e o nada


Existe uma lânguida poesia enclausurada neste portal,
um borrifo de pensamentos anacrônicos, obsoletos,
versos velados marcados de cores e odores habituais.
E existe a poesia calada do cancro infiltrada nas vísceras
a apodrecer palavras reticentes;
um engasgo bruto, uma turbulência de rompantes na língua.
Existe uma língua querendo tornar-se idioma,
um pássaro pousado,
um matiz de arco-íris no meio da noite.
Existe a palavra pingada no oco do céu de uma boca pedindo socorro.
E o poema perdido que ora berro
é só uma mentira
trancafiada
entre o espanto e o nada.

(Celso Mendes)

sábado, 9 de abril de 2011

O segredo


irrompe o dia,
assim, como por muito insistir,
a destrancafiar-se da longa noite
onde o pesadelo ungia sonhos
e a boca louca balbuciava
desconexas verdades imperfeitas, assim,
como todas as verdades.
irrompe o dia
enquanto a lua derruba sua tristeza
encharcada de nuvens, estrias de ventanias,
de sombras incandescentes; comovida com a desesperança
que resta sob esta pálida luz bipolar.
irrompe o dia
a suplicar o novo, a suplicar de novo a todas as esquinas
para que não se virem, assim,
súbito, e para que as palavras não fujam por entre caules de
árvores outonais, desguarnecidas de folhas e flores, assim,
sem registro, mudas, inaudíveis.
irrompe o dia
a desesconder esconderijos, rotas de fugas fúteis,
inúteis navegares.
irrompe o dia a farfalhar fantasias vencidas
e a destruir as máscaras intactas de um tempo pretérito.
irrompe o dia no eterno aguardo da nova noite,
definitiva.

(Celso Mendes)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Escotoma cintilante

teu vulto vívido
povoa-me
os olhos
híbridos

lúcida loucura
desta
reticente
retina
que insiste
aprisionar
passarinhos

(Celso Mendes)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Saber do voo


eu faço versos de voos
que nem sei voar
e me arremesso às rochas
onde o silêncio me compreende.

(Celso Mendes)