sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Desexplicações, inutilidades e desconhecimentos

aqui, sem um porquê, eis-me, a catalogar inutilidades e a fazer apologia da utilidade do desconhecido, do não saber para procurar. espero destas palavras nada além de um alvoroçado desentendimento, um gotejar de sílabas perplexas ao perceber seu próprio significado num plano que se estende além da linha de uma razão que não pretendo. até gostaria que elas falassem do contemplar horizontes como o mar contempla o pássaro ou a montanha contempla a árvore. gostaria, mas não creio que consigam ser tão desimportantes assim. mesmo porque não quero do albatroz o voo; quero o olhar. o plácido, belo, amplo, mas limitado olhar (meus limites fazem parte da minha infinitude). também ando a dispensar ruídos que não sejam música. prefiro continuar abarrotado de silêncios cúmplices, ensimesmado com este vácuo de sentidos plenos a serem ativados, que me amortalham a mente das sobriedades de um superego capenga e me revestem de saborosos vazios. vácuo de sentidos plenos para a água e para o fogo. preciso, necessito exorcizar convicções. e que um dia me livre, vez por todas, de todas as certezas que já construí. minhas inconsistências, celebro a cada momento. alimento-me de minhas dúvidas. e minhas incertezas acato como as minhas verdades. assim sigo. capto sensações, guardo as que me aprazem, convivo com as demais, sobrevivo com o que a vida me oferece. e a vida nada mais me oferece do que vivê-la. este é o tempo. a morte é atemporal.

sábado, 12 de novembro de 2011

Sobre voos e ubiquidades

no voo do pássaro
a pseudoubiquidade do peso
sopra-me
os olhos
alados
como chumbo
enquanto
permaneço
chão
no azul
e me avenho
com o vento

(Celso Mendes)

Breves reflexões sobre o imponderável existir


Renovação

é na descontrução das coisas
na demência do pólen
e do sêmen
na incontestável efemeridade
de cada pele
de cada pétala
que se nos afronta
a vida

(Celso Mendes)

Física

pedaços
de luz
caindo
sob um olhar
sempre me enternecem

[viver é interagir energias
captá-las, essencial]

(Celso Mendes)

Sem escolha

inevitável
cada minuto
insofismável
cada mudança
indescritível
cada pulsar

e a vida bate na cara

(Celso Mendes)