terça-feira, 27 de abril de 2010

Epífora

Uma agulha atravessando a pele
Sorrisos costurados
Alegria lacrada na memória
Percepção rasgada, picada em pedaços
Partilha de angústias brancas
Pretéritos presentes nada perfeitos
A prisão perpétua no hipocampo
O grito

Ferroadas agendadas sistematicamente
Auto-inoculações precisas
O lento destilar da peçonha
Lucidez embargada de fel
Dias que arrastam correntes
Paredes atravessando olhos
O brilho triste da esperança vermelha
Solidão recorrente na multidão sem face
O que não quer ser choro
Epífora

A mesma velha sensação disfarçando-se por semitons
O ponteiro que insiste registrar horas de ansiedade
A esperança da manhã que foge por campos floridos
E a rotina vespertina anoitecendo mais uma vez
Mudez

(Celso Mendes)

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