quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Compasso de espera para abalar raiz e verbo

 
[c]
um desalinho sacode a placidez  de templos e olhos
expurga a retidão do traço que se queria limpo e breve
inverte a polaridade deste horizonte injetado de sangue e de buscas
inventa um azul que adere incontrolavelmente
sob pés que desalcançam o chão
ao tempo que se rompem lábios siameses
e irrompem-se línguas bifurcadas

é quando a palavra reveste-se delírio
imagens calcinadas em pele árida reinventam-se gérmen
memórias atemporais perfiladas na rocha desorientam grafites

pólen de girassol
lua laranja
gosto de alcaçuz
sol e noite
orvalho e argila
trilhas e nuvens
estrelas na boca
brilho e silêncio
viagem

é quando o delírio ampara-se na palavra
levita
recolhe-se
e sonha
«real»
[c]

(Celso Mendes)

24 comentários:

Tania regina Contreiras disse...

Celso, que beleza de poema! Lembrei-me da máxima de que é na dissonância que se cria. Genial, amei e vou levá-lo comigo hoje nos passos desse meu dia.
Beijos,

Suzana Martins disse...

O delírio ampara-se nos versos que escalam o tempo. Lábios que ultrapassam os versos e mãos que grafitam letras desorientadas num sentimento confuso.

O verbo, a voz que não cala dentro do mundo.

Lindo. Lindo. Lindo.

Beijos meu querido poet'amigo!!

Joelma B. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Vivo este delírio e pretendo não me desfazer dele tão cedo. Levito, recolho-me, sonho, é real! Você disse:

"pólen de girassol
lua laranja
gosto de alcaçuz
sol e noite
orvalho e argila
trilhas e nuvens
estrelas na boca
brilho e silêncio
viagem"

Quero o gosto de tudo isso. Quanta leveza, que brilho! Adorei, Celso.

Beijos ;)

Dolce Vita disse...

Só a poesia toca o sentido e a beleza nesta magnitude.

Ler-te é um privilégio.

Beijos, meu amigo

Dolce

Lídia Borges disse...

Delirante! Uma viagem através da palavra, figuraçãode uma realidade sonhada.

Um beijo

Unknown disse...

Manoel de Barros acentua que "poesia é quando o verbo pega delírio", aqui há uma insanidade de raiz que conduz as palavras,



abraço

Anônimo disse...

Muito obrigada pelo seu comentário em meu blog, Celso! Fico muito feliz em te ver por lá. Feliz, pois escreve muito bem e lhe tenho como uma de minhas referências. Teu blog é um dos melhores que sigo!

Beijos.

Joelma B. disse...

Perdão pelo comentário acima, Celso... só agora percebi que havia enviado comentários trocados...

Admirável tua voz!

Beijinho com admiração!

Luna Sanchez disse...

As minhas palavras servem de cápsulas aos meus delírios, sabe, Celso? Eles têm uma parceria fiel que, se eu fosse dramática, diria que me vitimiza. Mas como sou prática, não reclamo, aproveito.

=)

Um beijo.

Menina no Sotão disse...

O que dizer de um versar que me deixou aqui em silêncio?

sol e noite
orvalho e argila
trilhas e nuvens

Eu diria mais, janela aberta, olhos fechados, coração escancarado e o suspiro do âmago se percebendo no outro...

Bacio

Jorge Pimenta disse...

a quanto podemos aspirar pela mão e pela palavra?
cada alvoroço, cada arrepio, cada inconstância é palavra guardada, escondida, suspirada, pensada e não ousada, mas sempre, e em todos os casos, somente palavra.
amigo celso, revejo-me infinitamente na tua escrita!
um forte abraço, poeta!

Sândrio cândido. disse...

A terceira estrofe ficou agarrada a minha boca
abraços

Cris Amâncio disse...

Olá Amigo, Doutor, Escritor, Poeta...
Artista! É esta a palavra que descreve vossa pessoa, de palavras leves e fortes, sensatas e tocantes, palavras que traduzem a verídica sensibilidade do viver, amando, vivendo, amar, doce viver...
Sabes o que quero dizer, conheces o sentir das palavras...Parabéns Amigo Dr.Poeta Escritor...
Saudades, Abraço!!!

CARLA STOPA disse...

Elas sempre amparam nossos delírios...Saudades...

Fred Caju disse...

As variações no ritmo do poema são demais, Celso. Muito bom!

Onde Pousam as Borboletas disse...

E quão maravilhoso é quando sonhamos real e nossos sentidos percebem o todo à nossa volta...

Sempre uma delícia teus textos, Celso! Parabéns amigo. Beijo, beijo...

manuela barroso disse...

E é o delírio que transporta nas palavras os verbos inquietos de poesia feita orvalho...
abraço

carmen silvia presotto disse...

Celso releio aqui, e que instante este em que o olhar do poeta desveste o delírio para "despalavrar" no universo poético... dizes de nosso fazer cotidiano e tão bem!!
um beijo.

Carmen.

Wania disse...

Celso,

Ahhh, esse Compasso de espera que nos descompassa a realidade!
Que venham os (teus) verbos abalar todas as raízes!


Bj grande, meu amigo!

Unknown disse...

É na raiz do teu gene que se encontra a impossível beleza poética!

Beijos

Mirze

Jey Cassidy disse...

delirium.embriagou-me.

Tiago do Valle disse...

Sua capacidade de dizer o "indizível" é inspiradora... Sua linguagem é autêntica! Sempre muito bom!

Anônimo disse...

Este e "alado", que li (e lambi) lá no teu mural do facebook, caem como frutos na revolução da raiz da língua.

Ambos vibrantes, Celso.
Parabéns.