segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Algia Temporal


De tanto pensar
em círculos,
voltando pro mesmo ponto,
meus neurônios
fasciculam,
como o tremer descontrolado
de minhas pálpebras
latejando minha lucidez,
como um coração que fibrila
estagnando o sangue
nas veias,
como o bater impaciente
de meus pés
esperando
o não sei que.

Cada minuto
atravessa-me
do lobo frontal
ao hipotálamo,
perpassando a região temporal,
e dói.

Mas não lamento a dor já sentida.
Queria apenas soltar as amarras,
desvencilhar-me desta imobilidade,
para que os minutos futuros
não fossem tão iguais...

preciso desfibrilar esta algia temporal

(Celso Mendes)

19 comentários:

Celso Mendes disse...

Um poema antigo. Um momento diferente. São nossas fases. Como perdi todos meus novos projetos e rascunhos e enquanto o tempo não me permite refazê-los, não custa relembrar.

Celso Mendes disse...

Ah, já consegui a desfibrilação. A maneira mais simples é não pensar no tempo futuro, apenas deixar que ele flua.

Sândrio cândido. disse...

Ainda bem que conseguiste celso. Um poema que nos fala muito, com uma linguagem muito diferente.
abraços

Anônimo disse...

Conheço bem esses pensamentos em círculos, aliás que definição perfeita, Celso!!! São eles que nos amarram e não deixam fluir o sangue, estagnando a nossa energia... não pensar no futuro com certeza, afrouxa essas amarras ...

Seu poema é imenso, querido.Adoro te ler.

Beijo

Celso Mendes disse...

Obrigado, Parole. Saiba que também tenho-a como uma de minha leituras favoritas. Mas o que acontece com teu blogue que não consigo abri-lo?

beijo.

manuela barroso disse...

Uma viagem através do interior da nossa massa encefálica e afins (...) que eu não domino! Vou pedir ajuda à filhota!
Mas são essas conexões que nos levam aos humores sempre tão inconstantes da nossa existência...
Bji!

Anônimo disse...

Me desculpe, Celso, esqueci de avisá-lo que troquei o endereço do meu blog... é só clicar no meu nome nesse comentário que vc chega até ele, mas ainda não fiz nenhuma postagem...

Um lindo dia para ti.

Luna Sanchez disse...

Gostei tanto da expressão "algia temporal" nessa tua construção...

=)

No fundo a gente sempre sabe o que espera mas nem sempre é fácil admitir. Pelo menos comigo é assim.

Um beijo.

Celso Mendes disse...

Acho que é isso sim, Luna.

Obrigado, Manuela.

Parole, já seguindo...

beijos.

Daniela Delias disse...

Enquanto relembras a gte aqui se delicia nesses tempos da neurociência rs...! Ah, tomara que encontre o pen drive! Um beijão!!!

MARILENE disse...

Resolveu deixar o tempo fluir, conforme antes mencionou. Como médico, encontraria uma forma de adormecer o incômodo físico, mas aquele preso à ansiedade do que ainda não conhece, mas espera, está longe dessa esfera.

(Confesso que me senti honrada em ver você no meu blog. Tenho acompanhado seus poemas, sempre riquíssimos, apreciando sua capacidade de lidar com as palavras.)

Bjs.

Lídia Borges disse...

O tédio e o medo de que as rotinas nos domem, nos cortem as asas e nos limitem na urgência de viver tão visível no "bater impaciente de [meus] pés".

Um beijo

CARLA STOPA disse...

Uma over dose pensante que nos leva aos caos de nós e nos resgata depois...Mais pensantes ainda...Caso perdido.

Tiago do Valle disse...

Celso, se você soubesse o quanto essa poesia sua se encaixa pra mim. "De tanto pensar em círculos, voltando pro mesmo ponto... Cada minuto atravessa-me... e dói" Li sentindo que o desabafo foi meu. Quando isso acontece (é raro), tenho uma vontade incontrolável de agradecer o poeta. Obrigado!

Unknown disse...

sentir de têmporas, em temporal, fibra por fibra



abraço

OceanoAzul.Sonhos disse...

sim... pensamos e corremos muitas vezes em círculos, que se soltem as amarras e se vença a imobilidade.

Beijo amigo, saudades de te ler
oa.s

Jorge Pimenta disse...

caro amigo,
o pensamento é o novelo mais complexo de todos ainda para mais porque tem sempre as sensações e as emoções a dobá-lo. como não entrar em ebulição existencial?
sabes, há momentos em que desligo as conexões e deixo que o vazio me empurre para aquele cenário onde nem a cor foi inventada, ainda. o tempo, entretanto, ajudará a domar a cognição e emoção, esses iracíveis amotinados.
um forte abraço!

Suzana Martins disse...

Volto a blogosfera e absorvo palavras que embriagam a minha alma...

perfeito...

Beijos

Menina no Sotão disse...

Me embriaguei com sua "algia temporal" e confesso que precisei recorrer ao dicionário como forma de compreensão. Algumas palavras me escapam, mas o som delas permanecem em mim. Sua poesia me lembrou que há tempos eu me libertei dessa composição temporal. rs

bacio