segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Breve motivo para se viver o rubro



no bálsamo que alicia olhos
um fulgor de olfato que embriaga
e altera os matizes dos sonhos
como poeira quente que penetra poros
a tingir de febre o sangue que se espessa
como a explosão daquele instante mudo
que fere acutilados e reticentes silêncios
como aquele engasgo que se quer um grito
mas sempre
se prende
em círculos, ciclones
e bocas de estômago

no que a carne sente
nestes alardes de tinta e nó
um tanto de espanto
um tanto só
[momento é pó]
que arranha o contorno da íris
e se esparrama na pele que enrubesce
tão breves segundos
breves tantos quanto vida
que brevemente os guarda
em cofres-memória
fadados a se esvaírem
na infinita
brevidade
de ser


(Celso Mendes)

22 comentários:

marlene edir severino disse...

Celso,

Há que viver o rubro,
o momento intenso,
desatar o nó,
desprendê-lo da boca do estômago,
deixar que toque e se esparrame na pele...

Não deixe que se esvaia, poeta!
[Intenso: A-do-rei!]

Um beijo, amigo!

Jorge Pimenta disse...

porque há em nosso redor tão mais do que a "infinita brevidade do ser" possa sorver, deixemos o olhar mansamente aquecido beijar o lume do sol que nos brinca nas mãos-criança.
textaço, amigo celso!
um abraço ainda agarrado à âncora destes cofres-memória que empurram para diante!

Anônimo disse...

Pelos momentos de engasgo, ler algo assim é uma espécie de grito.

Não há um verso seu que não me envolva, Celso, tudo tão lírico e cheio dessa matéria inebriante.

Beijo!

manuela barroso disse...

Pura poesia que nos engasga, emudece, entorpece as palavras...penetra no peito e faz explodir de admiração!
Poeta...nasce-se!
Grande momento,Celso!
Beijo!

manuela barroso disse...

Ah!
E lindo o seu mês de agosto!
Também li!

Cris de Souza disse...

por essas e outras tenho motivos permanentes pra te ler e reler. é o tipo de poema que nos arrebata por inteiro.

meus aplausos, doutor da lira!

beijos desta impaciente.

Menina no Sotão disse...

As vezes é bom poder sair de mim no meio da tarde e ficar assim, em silêncio lento a ler-te, colhendo essas sensações que estão cá dentro, mas para sair é preciso que a poesia busque por tudo isso.
Respirei fundo aqui e me perdi.
bacio carissimo

Ps. Adorei o seu mês de agosto. rs

Luiza Maciel Nogueira disse...

e que bálsamo, fulgor, matiz, tudo maravilhoso, tantas imagens tão vívidas pulam do poema :)

beijos

Suzana Martins disse...

Há um jeito de viver rubro que se embriaga na leveza do ser. Há um jeito de penetrar desejos como o bálsamo de uma poesia encatada.
Há um jeito de se escrever que decifra cada olhar no sentido da palavra.
Há direções onde apenas um poema se encaixa!!!
Há beleza no jeito de viver onde a poesia, o rubro verso desenha!!

Beijos querido!!^^

Unknown disse...

há tanto para ser na brevidade de um instante,


abraço

Cissa Romeu disse...

Celso,
belíssimo poema!
A dinâmica da vida, a carne, o rubro, do momento ao espiral de nós mesmos... no tempo, assim, o só!

Celso, muito obrigada por estar seguindo meu blog, cheguei aqui em retribuição, mas me surpreendi com tamanha qualidade dos teus textos e poemas! Maravilhosos!
Espaço para vir e voltar!

Grande abraço,
Cecília.

Rafael Castellar das Neves disse...

Forte, hein? Carregado e mexe com a gente ao ler! Gosto disso, Celso!

[]s

OceanoAzul.Sonhos disse...

Arrebatador, entra pelos nossos poros e mexe com a nossa mente.

Um beijo
oa.s

Sândrio cândido. disse...

Há um tanto de nós breve como a vida, belíssimo pela leveza e pelo trabalho com as palavras
abraços

CARLA STOPA disse...

Momentos...Átimos...Eternos...

Lídia Borges disse...

Dos momentos e dos rubores que os intensificam, fazendo deles únicos, preciosos e por isso mesmo guardados em "cofres-memória".

Um beijo

Luna Sanchez disse...

"...um tanto de espanto
um tanto só
[momento e nó]"


Espanto maior é quando isso vira regra e não desvio.

Ótimo post, gostei muito.

=*

Mar Becker disse...

Fadados a se esvaírem? A virarem um belo poema, eu diria: um poema em carne viva.
Adoro vir aqui :-)

Beijo!

dade amorim disse...

Impossível ser tudo, mas possível se abandonar ao rubro que nos supera.
Abraço, poeta.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Desejo rubro infinito, breve, repetido, nunca igual!

Abraço, poeta

Anna Amorim

Tiago do Valle disse...

Poesia que a gente prende a respiração enquanto lê, e quando termina, solta com o ar preso, o alívio inspirador da catarse.