sábado, 29 de outubro de 2011

Ruídos de um silêncio sobre luzes imaginárias


cacos violeta de um caleidoscópio
ecos, reflexos, cacos
giros violeta de todas as cores

de repente a visão, mas não há imagem
e o que eu supunha indelével
eram apenas pegadas em tempestade de areia
apenas o início do precipício
um lapso negro
do dia mais brilhante
do que eu previra primavera

há momentos em que a estrada escapa-me dos pés
como se engolisse o olhar de aves migratórias fora de seu rumo
em rotas tortas que indeferem sentidos
como o decidir a revoada dos dedos que seguram as asas em silêncio
a calar sobre costas que pesam cem milhões de lembranças

de repente a visão, não a imagem
há momentos assim
impregnados da descoberta da verdade doída da ilusão
de se palpar o irreal
de se enxergar o que não há
mas há
assim

(Celso Mendes)

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Vertedura

porque verte
tanto e tanto
há o encanto
da palavra bruta
em saliva lascada
massa de poema a ruminar

imagens germinam e dançam
no céu vermelho da boca
sonho ante sonho
verbo pós verbo
[desde a raiz da língua fendida]
enquanto não coagula
a seiva
exposta a  luz
ou a sombras

e assim se fez
e assim se faz
e se fará

decantação

(Celso Mendes)

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Movimento em si menor

por não ter onde ir, cá estou
e espero que o final seja breve
que se molhe o silêncio a fio de lâmina
que se rasguem pedaços de nada até sangrar o branco
e que se aplaquem os vazios
destes meus olhos
que têm sede

(Celso Mendes)