segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Acalanto para abstinências e vazios

                                         é a falta e a lacuna quem cria
                                                                      (Paul Valéry)
é para agasalhar ausências que teço este poema
fantasmas não dormem
anseios me esperam

o que urge além do lábio e da palavra
é o mesmo que me trinca o esmalte dos dentes
vindo da lacuna que ocorre no rastro do voo
de cada pássaro que ousei ser
neste não sentir talhado nos ossos
feito rios secos a riscar-me a pele
álveos calcinados 
onde escorrem congeladas 
a doçura e a tortura
de vozes e olhares idos ou perseguidos
dentro de um pretérito que me bate à cara
ou em um porvir que se me escancara

é para agasalhar ausências que teço este poema
de vazios e de abstinências
e me permito à lagrima
tanto quanto ao riso

(Celso Mendes)

27 comentários:

Lídia Borges disse...

Quantas vezes, para agasalharr ausência, as palavras nos são inferno ou paraíso.

Na pele, os voos ousam ainda ser pássaros.

Beijo meu

Nancy T disse...

tão intenso e humano!
um prazer acompanhar seus escritos !

Milene R. F. S. disse...

Os nossos fantasmas e os nossos anseios, quase sempre são ausências que doem, mas que em teus versos exalam emoção e intensidade. Lindíssimo amigo! Grande beijo!

Breve Leonardo disse...

[urge o corpo da letra, feito palavra

urgente!]

um imenso abraço,

Leonardo B.

Joelma B. disse...

Celso,
teu poema me emocionou tanto!

pele embargada tende a cismar... acho que volto depois...

Beijinho com admiração intensa, amigo poeta!

Luiza Maciel Nogueira disse...

e é deixar fluir o que existe no coração, beijos!

manuela barroso disse...

E essas ausências permitem preencher lacunas que criam um tecido poético num sortiégio de sensações, onde os rios não são secos,e onde a ternura pode fluir, num porvir feito de sorrisos!
Uma poesia que rouba as palavras...
Bela!
Abraço, querido amigo

Andrea de Godoy Neto disse...

Celso,

agasalhar ausências é de uma lindeza sem tamanho... e é também algo dolorido, como se, ao passar a mão sobre a pele, nos deparássemos com um abismo

poema lindo, desses que tocam com a ponta do dedo o que há de mais fundo.

beijos, poeta!

Jorge Pimenta disse...

celso, meu querido amigo,

quantas vezes a escrita é justamente o agasalho das ausências?; mas, quantas outras vezes (senão mesmo mais) a ausência é o verdadeiro festim da (boa) escrita?

a tua escrita é tão humanizada que, mais do que adivinhamos, quase vemos o corpo do poema. admirável!

um abraço!

cirandeira disse...

Quantas ausências, quantos vazios
instalam-se em nosso corpo na tentativa de impedir nossos voos?
A pele resseca, os rios tornam-se
temporários, escassos para saciar
uma sede que é permanente...
Mas o poeta cava, escava, e vai preenchendo, lixiviando um solo que
de tão fértil frutifica-se, e as
lacunas transformam-se em nova ramagem que nos alimenta e reconforta!
Obrigada, Celso

beijos

Unknown disse...

Celso querido!

A presença se faz mis dorte na ausência, quando sentimos a clareira que ficou na pele.

Belíssimo poema!

Beijos

Mirze

meu novo blog: My Thruth WordPress.com

Unknown disse...

essa serventia do poema aquece os vazios, dos pretéritos e do que há de vir,


abraço

Cecília Romeu disse...

Celso,
lindo, lindo!

Abrigar o vazio com cobertor grosso e fofo, (que estava guardado em uma das gavetas atrás da vida), sem sentir calor: eis o poema cumprindo-se em sua trama de lã.

Tua escrita é muito autêntica, coisa que mais aprecio em um poeta!
Beijos!

Marcio Rufino disse...

Caríssimo Celso,
Vim agradecer o comentário sobre o Haicau da nistura no blog do Gambiarra Profana. Mas confesso saio de seu blog extremamente encantado com a forma sedutora e única coma qual vc tece seu poema. Parabéns. É muito bom conhecer poetas assim. Gostaria de convidá-lo a visitar meu blog pessoal http://emaranhadorufiniano.blogspot.com
Seus comentários serão muito bem vindos. Já lhe sigo comprazer.

Grande abraço!!!

marlene edir severino disse...

Celso,

Amparadas, as ausências ficam tão presentes
e como bem disse Drummond,
essa ninguém te rouba

Tocante, lindo, lindo!

Abraço, amigo!

Suzana Martins disse...

Agasalho a minha saudade num poema carregado de versos dedilhados a você... Uma canção escrita em temas de solidão...

beijos querido

Anônimo disse...

Tanto a lágrima quanto o riso preenchem e transbordam de nós as ausências.

Um poema fabuloso, Celso.

Beijo.

Anônimo disse...

Fique à vontade, querido.

:))

Adriana Riess Karnal disse...

poema tecido: agasalho.lindo mesmo, Celso.

Daniela Delias disse...

Acabei de ver lá no FB...que poema lindo, meu amigo.
Bjo, bjo

Francys Oliva disse...

os nossos fantasmas e anseios muitas vezes nos perseguem, e causam muitos vazios onde uma lagrima escorre pelo rosto.
intenso o seu poema e belo.
beijos

Quintal de Om disse...

foram estilhaços que se alojaram no meu mediastino, esse desatino de não, nem nunca me reter em suas mãos.
essa lacuna, essa espera nua de preencher espaços e vãos aguados de lágrimas até secar a tez e a face adormecida de manhãs.
Agucei aquele som de uma estranheza vazia e repetitiva e lancei teus olhos através de mim. mas nada viu porque eu era o nada que se sucumbiu nos meus (in)cômodos ausentes e mofados de gritos agudos e singulares como revoada de morcegos.
Meu vão é seu e o meu espaço tem a tua espera nada mais , nem menos desesperada de ser reconhecida nessa entrega desenfreada e amanhecida em águas dos teus rios secos e entalhados cios nas veias dos meus (a)braços e antebraços. E ante o abraço de antes, esse seu agasalhar ausências me teceram ontens e cobertores que pendurei nos varais, pra secarem o sal, nessa solar imenso e estrondoso riso, ancorando sua presença aqui, além de ser tocado no rosto.

(rs não resisti, meu querido)
Tão bom estar aqui e sentir a entrega que causas em meu (uni)verso.

Meu carinho
Abraços, flores e estrelas...
Sam.

manuela barroso disse...

...mas este acalanto, preenche todos os vazios, sustem a àgua triste que também é vida!
A Água do "Bar do Poeta" não é comportável nos diques, senão nos dos vazios de nós!
E quase era água, porque um sorriso de obrigada, as tuas palavras !
Obrigada querido amigo!
Fraterno abraço

Anônimo disse...

Essa é uma essência humana, em todos os seus dilemas e sentidos, gostei de ver. Abraços

carmen silvia presotto disse...

Fantasmas não dormem, e sigamos vestindo as sombras e sempre com Poesia... muito bom sempre estar aqui.

Beijos Celso e bom retorno de Carnaval.

Carmen.

OceanoAzul.Sonhos disse...

As palavras são o mellhor agasalho nas ausencias, aquelas que escrevemos em nós...
Excelente meu amigo!
beijos
cvb

Ricardo Mainieri disse...

A alma humana é composta de porções de claro/escuro, de certezas/incertezas. A nós foi dado o dom de verter sentimentos em palavras. Palavras que tem o poder de sensibilizar. Abraço.

Ricardo Mainieri