um sopro
e a noite deseja
sorrateiramente
ocultar o ruído da luz com a sombra do vento
enquanto
à toa
eu brinco com palavras que apanhei à tarde
no meu quintal
se elas pingaram das árvores
ou do bico de pardais
tanto faz
se caem em minhas mãos
eu brinco
e engulo
e brindo
bem sei que o tempo teima em escorrer
mas quem sabe ainda aprendo a língua dos passarinhos
antes de conseguir voar
antes de escurecer
(Celso Mendes)
24 comentários:
Mui belo, meu querido!
Adoro quando você descreve tão bem um lugar...e por sinal tão bonito!
Realmente você tomou conta das palavras que caíram em suas mãos...brincou, engoliu e brindou com inspiração!
Para mim, tu já sabes a língua dos passarinhos, pois já (en)cantou este poema!
Beijos.
Au revoir :)
Celso
Você sabe falar uma língua ainda mais bonita. A dos poetas.
Queria recolher palavras (que eu gosto tanto) no meu quintal, também, antes que anoiteça.
bj
Rossana
"O bicho,
quando quer fugir dos outros,
faz um buraco na terra.
O homem,
para fugir de si,
fez um buraco no céu."
[Mario Quintana]
Lembrou-me Quintana teu poema.
Muito lindo tudo isso, Celso!
Alcei voo do quintal daqui...
Beijo!
Celso, vc já fala essas línguas todas da natureza, e das coisas. Sensível poema, muito bonito.
Celso, lindo poema. Ternamente simples com a beleza que a natureza confere às palavras que a descrevem.
Beijos
oa.s
Celso,
... parece tão fácil o que é extremamente difícil: brincar com as palavras e com a cumplicidade que elas têm consigo. Como quem vai ao quintal e as colhe como flores! Tão calmamente suave!Como sempre, muito seu!
Bjis, Celso.
Belíssima entrega amorosa à palavra.
Beijos
Ah que bom ver essa esperança brilhando no teu poema. Lembrei Quintana. Maravilha Celso!
Beijos
Coisas que se pensam ao entardecer? Uma delas é viajar. Que belo poema, heim! Não tem nada mais sofisticado que a simplicidade.
Lembrei-me do inesquecível:
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas
mais que a dos mísseis.
Tenho em mim
esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância
de ser feliz por isso.
Meu quintal
É maior do que o mundo.
(Manoel de Barros)
Um beijo, queridíssimo!
Celso
Esta coisa de apanhar palavras também me persegue, gosto desta imagem. Vejo em teu poema- uma linguagem da teologia- um enraizamento na primeira estrofe, a segunda é como se convivesse os dois lados, na terceira o poeta deseja abrir-se a algo- este verso exemplifica " mas quem sabe ainda aprendo a língua dos passarinhos
antes de conseguir voar". Dizem que pelo desejo o ser humano habita as alturas... esta é a leitura que faço, poema belo como sempre
abraços
Quanta sensibilidade, meu querido amigo!! Quantos versos voando em letras perfumadas, cheia de asas e encontrando a alma livre de alguém que aprendeu a escurecer...
Lindo demais!!!
Beijos
Eu sempre me sinto mais forte quando escurece. A noite me compreende.
Um beijo.
A noite pra mim é uma presença que me leva de encontro a mim mesma, através do tato. Ocultam-se as cores e florescem as sombras e nelas tudo tem formas inusitadas, sem rótulos ou imposições humanas. rs
Talvez por isso seja possível a língua dos pássarinhos. rs
bacio e bom fim de semana
Brincar com palavras é mais que um dom, é um encantamento que, como poucos, vc realiza. Sempre consigo voar ao ler seus poemas-sonho, levíssimos, delicados, acariciantes como brisa de fim de tarde, como canto de passarinhos.
Eu gosto muito.
Beijokas.
Celso,
É na brevidade que a palavra se eterniza.
Abraço,
Anna Amorim
Me senti na leveza das asas desse poema. Aplausos e reverências, ao meu querido poeta.
Um abraço.
Um traço de Mario Quintana sem que se perca o estilo Celso Mendes. Muito bom.
Abraço.
Poema sensível e delicado, Celso.
É sempre muito bom te ler.
Beijo
Celso, hoje o seu poema me fez desejar um quintal, assim, para apanhar palavras tão belas quanto estas.
Li e reli... Adorei!
Obrigada.
Um beijo
aprender a língua dos passarinhos é tarefa de contemplação nos arroios,
abraço
E num dia em que apetece colher mais palavras no bico dos passarinhos, nada como ouvi-los também nas margens dos nossos rios onde também cantam rouxinóis.
E enquanto esperam por si na mansidão destas águas, continuam a trinar!
bjis
Lindo. Quando é bonito, é, não tem o que dizer, não tem o que tentar explicar, não tem nada a tirar ou acrescentar... As palavras que caem em suas mãos, acabam voando como os passarinhos.
querido amigo,
a imagem de um véu inóspito, sombrio, que falsamente nos protege enquanto o poeta, frágil, brinca com as palavras em alfabetos de asas, é admirável! é impossível que as palavras escureçam, verdade?
um forte abraço!
Você é um passarinho.
Que faz seu ninho, com palavras soltas, vindas da alma.
E as juntam em tão perfeita alegoria, que constrói seu ninho, redondo, brincando e amando, feito o João de Barro.
Uma bela noite.
Um grande abraço.
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