quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Coisas que se pensam ao entardecer


um sopro
e a noite deseja
sorrateiramente
ocultar o ruído da luz com a sombra do vento
enquanto
à toa
eu brinco com palavras que apanhei à tarde
no meu quintal

se elas pingaram das árvores
ou do bico de pardais
tanto faz
se caem em minhas mãos
eu brinco
e engulo
e brindo

bem sei que o tempo teima em escorrer
mas quem sabe ainda aprendo a língua dos passarinhos
antes de conseguir voar
antes de escurecer

(Celso Mendes)

24 comentários:

Anônimo disse...

Mui belo, meu querido!
Adoro quando você descreve tão bem um lugar...e por sinal tão bonito!
Realmente você tomou conta das palavras que caíram em suas mãos...brincou, engoliu e brindou com inspiração!
Para mim, tu já sabes a língua dos passarinhos, pois já (en)cantou este poema!

Beijos.
Au revoir :)

Batom e poesias disse...

Celso
Você sabe falar uma língua ainda mais bonita. A dos poetas.

Queria recolher palavras (que eu gosto tanto) no meu quintal, também, antes que anoiteça.

bj
Rossana

marlene edir severino disse...

"O bicho,
quando quer fugir dos outros,
faz um buraco na terra.

O homem,
para fugir de si,
fez um buraco no céu."
[Mario Quintana]


Lembrou-me Quintana teu poema.
Muito lindo tudo isso, Celso!

Alcei voo do quintal daqui...

Beijo!

Anônimo disse...

Celso, vc já fala essas línguas todas da natureza, e das coisas. Sensível poema, muito bonito.

OceanoAzul.Sonhos disse...

Celso, lindo poema. Ternamente simples com a beleza que a natureza confere às palavras que a descrevem.

Beijos
oa.s

manuela barroso disse...

Celso,
... parece tão fácil o que é extremamente difícil: brincar com as palavras e com a cumplicidade que elas têm consigo. Como quem vai ao quintal e as colhe como flores! Tão calmamente suave!Como sempre, muito seu!
Bjis, Celso.

Dolce Vita disse...

Belíssima entrega amorosa à palavra.


Beijos

Luiza Maciel Nogueira disse...

Ah que bom ver essa esperança brilhando no teu poema. Lembrei Quintana. Maravilha Celso!

Beijos

Cris de Souza disse...

Coisas que se pensam ao entardecer? Uma delas é viajar. Que belo poema, heim! Não tem nada mais sofisticado que a simplicidade.

Lembrei-me do inesquecível:

Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas
mais que a dos mísseis.
Tenho em mim
esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância
de ser feliz por isso.
Meu quintal
É maior do que o mundo.

(Manoel de Barros)

Um beijo, queridíssimo!

Sândrio cândido. disse...

Celso
Esta coisa de apanhar palavras também me persegue, gosto desta imagem. Vejo em teu poema- uma linguagem da teologia- um enraizamento na primeira estrofe, a segunda é como se convivesse os dois lados, na terceira o poeta deseja abrir-se a algo- este verso exemplifica " mas quem sabe ainda aprendo a língua dos passarinhos
antes de conseguir voar". Dizem que pelo desejo o ser humano habita as alturas... esta é a leitura que faço, poema belo como sempre
abraços

Suzana Martins disse...

Quanta sensibilidade, meu querido amigo!! Quantos versos voando em letras perfumadas, cheia de asas e encontrando a alma livre de alguém que aprendeu a escurecer...

Lindo demais!!!

Beijos

Luna Sanchez disse...

Eu sempre me sinto mais forte quando escurece. A noite me compreende.

Um beijo.

Menina no Sotão disse...

A noite pra mim é uma presença que me leva de encontro a mim mesma, através do tato. Ocultam-se as cores e florescem as sombras e nelas tudo tem formas inusitadas, sem rótulos ou imposições humanas. rs
Talvez por isso seja possível a língua dos pássarinhos. rs

bacio e bom fim de semana

Lua Nova disse...

Brincar com palavras é mais que um dom, é um encantamento que, como poucos, vc realiza. Sempre consigo voar ao ler seus poemas-sonho, levíssimos, delicados, acariciantes como brisa de fim de tarde, como canto de passarinhos.
Eu gosto muito.
Beijokas.

Unknown disse...

Celso,

É na brevidade que a palavra se eterniza.

Abraço,

Anna Amorim

Ana Morais disse...

Me senti na leveza das asas desse poema. Aplausos e reverências, ao meu querido poeta.

Um abraço.

dade amorim disse...

Um traço de Mario Quintana sem que se perca o estilo Celso Mendes. Muito bom.
Abraço.

Anônimo disse...

Poema sensível e delicado, Celso.
É sempre muito bom te ler.


Beijo

Lídia Borges disse...

Celso, hoje o seu poema me fez desejar um quintal, assim, para apanhar palavras tão belas quanto estas.
Li e reli... Adorei!

Obrigada.

Um beijo

Unknown disse...

aprender a língua dos passarinhos é tarefa de contemplação nos arroios,

abraço

manuela barroso disse...

E num dia em que apetece colher mais palavras no bico dos passarinhos, nada como ouvi-los também nas margens dos nossos rios onde também cantam rouxinóis.
E enquanto esperam por si na mansidão destas águas, continuam a trinar!
bjis

Tiago do Valle disse...

Lindo. Quando é bonito, é, não tem o que dizer, não tem o que tentar explicar, não tem nada a tirar ou acrescentar... As palavras que caem em suas mãos, acabam voando como os passarinhos.

Jorge Pimenta disse...

querido amigo,
a imagem de um véu inóspito, sombrio, que falsamente nos protege enquanto o poeta, frágil, brinca com as palavras em alfabetos de asas, é admirável! é impossível que as palavras escureçam, verdade?
um forte abraço!

Dayse Sene disse...

Você é um passarinho.
Que faz seu ninho, com palavras soltas, vindas da alma.
E as juntam em tão perfeita alegoria, que constrói seu ninho, redondo, brincando e amando, feito o João de Barro.
Uma bela noite.
Um grande abraço.