palavras insolúveis passeiam em minha noite
infestadas de estrelas, aromas e pios de coruja,
ao tempo em que a boca esboça versos
que se prendem na zona de luz
e as mãos amassam coágulos de vida.
amanhã talvez eu percorra outras vitrines
e arranje um sorriso novo para este lamento
alojado em minha epiglote. não sei porquês,
mas sei que assim é, pois sinto o tato rubro de uma saudade
acariciar-me a nuca e entristecer-me o azul.
mas não há amanhãs, amanhãs são apenas sonhos:
prendo-me às ervas daninhas da relva rasteira
para não deixar meus cacos à deriva
enquanto meu corpo cansado bate nas pedras da corredeira
a colecionar hematomas que são só meus
e guardo com carinho. visito apenas caminhos que pisei
à espera de que a lua me embale o sono.
visto-me da mesma pele de sempre
adornada de conhecidas cicatrizes. acomodo-me,
aguardo o acordar com novas marcas.
neste então,
flutuo entre a relva e as pedras.
onde estariam aqueles versos da zona de luz?
(Celso Mendes)