não há paixão que sobreviva nesta calçada
onde teus pés de salto agulha feriram o concreto
e poças de lama preenchem os buracos
que escondem o sangue jorrado
dos últimos colibris de asfalto
não há mais passos em frente desta janela de bar
que não lembrem teu hálito de espuma
vazando pela veneziana
como serpente
a procura de pupilas escancaradas
não há mais amor nesta alameda em desatino
destino de alucinações desencarnadas
que não sopre o reflexo apagado de pirilampos
que já foram olhos
já não há mais a saliva espargida do teu canto
a deixar o brilho de teu rastro estéril
à porta destas casas
já acostumadas a hábitos cetônicos
hepatotóxicos
agora órfãs
de tua corrosiva doçura
etílica
nem há mais lua nesta rua
onde pisaste
e agora jazem as estrelas
Será que a desilusão pode tanto assim mesmo? Acabar com tudo, com todas as cores, as sensações? Penso eu que não... Acho que há algo que sobreviva ainda que precise respirar fundo muitas e muitas vezes, pensar ter morrido. Acho que é possível sim abrir o peito, rasgar a pele e descobrir algo de intenso e vivido lá fora. rs
Fica uma doçura ainda que corrosiva, numa lua invisível mas que sempre existe! ...e a saudade ficará enfeitada de estrelas preenhendo os buracos da rua...porque nos da alma fica a recordação! Bjis!
Não há mais versos que escorram dos teus lábios ferindo a alma. Não há mais palavras que possam ser ditas num luar de estradas. Não há mais estradas, não há mais caminhos que entregue amores.... Não há mais candura...
Lu, acho que é só o espírito de um blues que tem aí. Um tanto de teatralidade e dramaticidade pra se cantar, como os cruéis saltos de agulha, não é Luna Sanches? rs
Celso, este teu poema é uma balada em 4/4 para um anjo decaído. Seja real ou imaginário, quem não teve o coração despedaçado por um loucamor que se foi? Belo & triste, lúcido & louco, versos que tocam fundo, como uma navalha.
Grita o amor, um refrão repetitivo, como um solo de guitarra no coração vazio! Talvez só um blues sobreviva nestas calçadas feridas que já foram olhos de tudo...
"o reflexo apagado de pirilampos que já foram olhos". Que lindo isso aqui, cara. "nem há mais lua nesta rua onde pisaste e agora jazem as estrelas" Poesia...! É pra fruir sem término. O final, fantástico! Celso, eu que te aplaudo! Abração, poeta!
Versos maravilhosos, meu querido Celso! O calor intenso que permitiu fosse o asfalto perfurado pelo salto agulha, aqueceu-me o espírito. Sentimentos densos, disfarçados de flores de caliandra... Abraço, amigo, grande poeta!
Quanto mais eu me identifico com um texto, maior é o grau de dificuldade em comentá-lo rs... As suas palavras são selvagens, e o seu olhar é sensível o suficiente para domá-las. Tem a densidade que me faz gostar de poesia.
Blues with the waves. Anestesiada selvagemente pela lascívia implícita,qualquer vã desejaria andar tocando profundamente com arame farpado. Impossível não ser envolvida e desejar ter tal poder de sedução.A desilusão é um teatro passageiro quando é apenas uma justificativa pro fracasso.Mas quando a desilusão é tão avassaladora,vale a pena chafurdar na lama até desaparecer em meio ao caos. Beijos!!!!!
Duvido que alguém leia esse poema e não se identifique com ele... e quem não se identificar, um dia se identificará. A música que vc escolheu é perfeita... reforça a palavra, o sentido. O conjunto é dramático como é dramático o fim de todo amor. Sombrio como é sombria toda saudade. Eu adorei. Beijokas.
Alguém que percebeu que manipular palavras, rompendo suas significâncias triviais, pode revelar muitos segredos. Médico. Escrever: um hobby.
Publicações:"TRAJETÓRIAS", pela Editora Utopia, além de participação na publicações da "Segunda Antologia do Bar do Escritor" e também da terceira antologia do Bar do Escritor denominada "BDE, terceira dose".
28 comentários:
Será que a desilusão pode tanto assim mesmo? Acabar com tudo, com todas as cores, as sensações? Penso eu que não... Acho que há algo que sobreviva ainda que precise respirar fundo muitas e muitas vezes, pensar ter morrido. Acho que é possível sim abrir o peito, rasgar a pele e descobrir algo de intenso e vivido lá fora. rs
bacio
Sempre acho que salto agulha tem algo de crueldade, juro.
Um beijo.
Quanta desilusão canta em seus versos Celso... a ausência da amada parece ter deixado o mundo vazio em seu poema... muito bom, belo demais! Beijos.
esse poema de rara beleza consegue ser triste e alegre, romântico e musica :) Esses amores "corrosivos" não foram feitos para entender, só sentir.
beijos
Fica uma doçura ainda que corrosiva, numa lua invisível mas que sempre existe!
...e a saudade ficará enfeitada de estrelas preenhendo os buracos da rua...porque nos da alma fica a recordação!
Bjis!
Celso, nossa....gostei muito do poema, e cá pensando que a paixão resiste e persiste quando caminha até o poema. Parabéns...
Beijos,
A musa desaparecida, feita de trilhas. O poeta a tentar preenchê-las em vão, em uma perseguição amorfa pelas ruas e alamedas, agora remotas.
Celso, maravilhoso poema!
A amplitude de significados e figuras de linguagem é imensa.
Muito bom ter vindo por aqui!
Grande abraço.
Cecília.
Não há mais versos que escorram dos teus lábios ferindo a alma. Não há mais palavras que possam ser ditas num luar de estradas. Não há mais estradas, não há mais caminhos que entregue amores.... Não há mais candura...
Lindo querido...
Beijos
Profundo. Sinto esta dor, desatinada em versos tão bons.
abraços
um blues tocado por você representa uma orquestra inteira.
beijos, encantador de sentidos!
Lu, acho que é só o espírito de um blues que tem aí. Um tanto de teatralidade e dramaticidade pra se cantar, como os cruéis saltos de agulha, não é Luna Sanches? rs
obrigado, meninas!
Olha os pirilampos aqui também!!! Que lindo, Celso...no espírito de um belo blues...
Bjo!
Ao som de um blues tudo é inspiração, tudo é permitido ser escrito.
Celso, poema intenso.
Beijos
oa.s
essas musas nos deixam os versos atônitos,
abraço
Celso, este teu poema é uma balada em 4/4 para um anjo decaído.
Seja real ou imaginário, quem não teve o coração despedaçado por um loucamor que se foi?
Belo & triste, lúcido & louco, versos que tocam fundo, como uma navalha.
Abração.
Ricardo Mainieri
Celso
Grita o amor, um refrão repetitivo, como um solo de guitarra no coração vazio! Talvez só um blues sobreviva nestas calçadas feridas que já foram olhos de tudo...
Lindo, muito lindo!
Bj
Apesar dos seus versos livres, esse poema tem uma certa crueza e crueldade que me remete à Augusto dos Anjos.
Sinistramente triste...
E lindo.
Bjs, meu amigo.
Rossana
Os sentidos dessas imagens poéticas parecem refletir nuances de uma "densa cenografia de alma".
Em outras palavras, viajei nesse poema...
Beijos
"o reflexo apagado de pirilampos
que já foram olhos". Que lindo isso aqui, cara.
"nem há mais lua nesta rua
onde pisaste
e agora jazem as estrelas" Poesia...! É pra fruir sem término.
O final, fantástico!
Celso, eu que te aplaudo!
Abração, poeta!
Versos maravilhosos, meu querido Celso!
O calor intenso que permitiu fosse o asfalto perfurado pelo salto agulha, aqueceu-me o espírito.
Sentimentos densos, disfarçados de flores de caliandra...
Abraço, amigo, grande poeta!
Versos de abandono resgatados com tantos versos de pura beleza.
Um abraço
Quanto mais eu me identifico com um texto, maior é o grau de dificuldade em comentá-lo rs... As suas palavras são selvagens, e o seu olhar é sensível o suficiente para domá-las. Tem a densidade que me faz gostar de poesia.
É uma luminusidade fosca, uma noite cansada a arrastar a alma num blue monocórdico e incolor.
Um beijo
Blues with the waves.
Anestesiada selvagemente pela lascívia implícita,qualquer vã desejaria andar tocando profundamente com arame farpado. Impossível não ser envolvida e desejar ter tal poder de sedução.A desilusão é um teatro passageiro quando é apenas uma justificativa pro fracasso.Mas quando a desilusão é tão avassaladora,vale a pena chafurdar na lama até desaparecer em meio ao caos.
Beijos!!!!!
caro amigo,
os homens são todos os lugares. agora, que uns e outros mudam, lá isso mudam...
abraço!
p.s. o teu poema levou-me até cassiano ricardo, no seu tão imenso
"rua torta
lua morta
tua porta"
Duvido que alguém leia esse poema e não se identifique com ele... e quem não se identificar, um dia se identificará. A música que vc escolheu é perfeita... reforça a palavra, o sentido. O conjunto é dramático como é dramático o fim de todo amor. Sombrio como é sombria toda saudade.
Eu adorei.
Beijokas.
É sim, não tenho dúvidas.
;)
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