quinta-feira, 27 de maio de 2010

Pânico



Sempre o medo e a angústia, a falta de cor selando seu semblante desbotado de vida e a música do silêncio a pesar sobre seus ombros. O ritmo acelerado de um coração mecânico, autômato, que nem mais lhe pertence, bate forte e descontrolado como a querer saltar de seu corpo, o mesmo corpo que flutua, límbico, na eletricidade de sonhos psicossomáticos; os mesmos sonhos focados na direção imagética de seu olhar estático.

Percorrer caminhos arteriais só leva a retornos venosos, escuros, tortuosos e sem oxigênio. Alma sufocada, seus olhos, por alguns segundos, arriscam explorar um vazio cercado de coisas sem razão ou sentido. Plantas artificiais enfeitam o dia fabricado por encomenda enquanto cãezinhos latem até acabarem suas baterias.

Estabelece-se um contato com o centro do nada. Segue brincando com lágrimas presas, que brilham, mas distorcem sua visão, e tenta, assim, esquecer que o sangue inunda lentamente seu mediastino prestes a transbordar ansiedade ou implodir sua tristeza. Já tem consigo uma certeza: não há anatomia que resista a mais um dia tonificado de pânico. E a noite chega.

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