Não sei se ando em cometas
ou num rabo de foguete.
Estou de bem com as paredes
e na janela há uma fresta.
Esta bolha de gel onde flutuo
lentifica-me,
turva-me a visão,
abafa-me a voz.
Existem flores do outro lado da rua,
o desassossego é só minha doença.
O ar está calmo,
o céu azul,
pessoas riem.
Dezenove incursões respiratórias
caladas
ouvindo os setenta batimentos cardíacos
tentarem parar o tempo,
enquanto meus cinco litros e meio de sangue
insistem circular
duas vezes por minuto por todo meu corpo
para oxigenar este cérebro,
que gera
um pensamento por hora
e se repete ciclicamente,
provam que estou vivo.
E as flores continuam do outro lado da rua,
vejo pela fresta da janela.
(Celso Mendes)
7 comentários:
Parabens pelo belo poema Celso. Abraço.
Do lado de fora do poema, vejo flores contemplando a composição dos pensamentos...
Para isso que elas respiram.
(E ao poeta, as melhores inspirações, sempre!)
Abraços.
Celso! Obrigada pelo gentil comentário lá no blog...passei aqui antes e também fiquei. Teu espaço é muito lindo, virei sempre. Um beijão!
Oi, Celso.
Vi agora, por entre a fresta da minha janela, que a sua sensibilidade de poeta tocou de leve na sua visão de médico e ambas se curzaram lindamente em versos maravilhosos. :)
Amei! Saio daqui com os batimentos cardíacos aceleradíssimos de emoção. :)
Beijos, querido.
Um surto na calmaria da vista da janela; poesia é observação e vertigem.
Adorei!
Grande beijo!
O desassossego é a medida certa...é também por ele que p artista ensaia um passo, um risco, uma escrita...
beijo cardíaco, então, ao seu desassossego!
O poeta é mesmo um "escutador". Saber ouvir a palavra transfigurada que dará o poema...
Muito bonito!
Postar um comentário