amanheço.
há uma réstia de noite
e o gosto de agosto a me soprar o rosto
a verter da janela.
pilhas de lembranças sobre o colchão
ainda dormem
esquecidas
gota a gota.
na boca o doce e o ácido,
na pele o tempo.
na boca o doce e o ácido,
na pele o tempo.
os fios piam seus pássaros
como de praxe.
postes descansam, esquinas acendem.
então converso com o vento. sinto.
hoje soprou-me frio, mas não calado.
pouco sei do lume
que me corta
ou da aridez das palavras segredadas,
mas sei daquilo que exala o vento
e de seu rastro solitário de silêncio.
entardeço sol adentro.
entardeço sol adentro.
(Celso Mendes)
3 comentários:
Belo poema, de uma tristeza discreta
que impregna os versos.
O poeta aponta seu foco para as pequenas realidades cotidianas e extraí imagens e metáforas consistentes.
Parabéns!
O vento nos sopra lembranças mas o "senhor tempo" as afasta, para quem sabe podermos prosseguir, mesmo não conseguindo esquecê-las.
Belo e forte, esse teu poema, Celso. Fico impressionada com a tua sensibilidade, essa rara capacidade para expressar sentimentos tão profundos!
Um beijo, poeta querido!
Que beleza, Celso! Bom demais ler-te! Beijos
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