quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Alfarrábios (repostagem)

percebo uma ruptura que me duplica.

mas sou feito de ferro e concreto,
fissuras não me comovem.
já sou azul e amarelo,
preto no branco,
e uma velha testemunha do conformismo.

o sopro que fere meu rosto
é a prova da fragilidade desta armadura.

redimo-me da canção subalterna a um desejo ocre.

e que não me faltem alfarrábios
para dizer da crueldade dos anjos,
que infernizam minhas noites
e visitam-me nas manhãs opacas
pintando-as de tons pastel,
feito palhas que incendeiam sutilezas
e espalham a fumaça:
ardência dessa angústia nos meus olhos,

asas que se queimam em pleno voo
sobre um chão que já não há.

(Celso Mendes)

25 comentários:

Celso Mendes disse...

Em época de entressafra, revisito um poema antigo e o posto hoje...

Fred Caju disse...

Água mole, pedra dura...

Unknown disse...

quando chão não há, instala-se um precipício de elevação que se eterniza em silvo,


abraço

Joelma B. disse...

talvez o chão falte porque é tempo de sublimação...

tua voz sabe agradar a meu silêncio, Celso!

Beijinho com admiração!

Batom e poesias disse...

Um dos poemas mais belos que já li nos últimos tempos.

Andam os cruéis anjos, descorando minhas manhãs e infernizando minhas noites, como tão acertadamente descreveu.

bjs, querido
Rossana

Unknown disse...

Forte e belo poema!

Quisera apenas perceber a ruptura, sem emoção, masnão. A fragilidade me persegue.

Parabéns,poeta Celso Mendes!

Beijos e minha admiração

Mirze

marlene edir severino disse...

"asas que se queimam em pleno voo
sobre um chão que já não há."

Denso, intenso!

Abraço, Celso

Luiza Maciel Nogueira disse...

este poema em particular me fez lembrar do filme "Asas do desejo", essa angustia que até os anjos tem

beijos

OceanoAzul.Sonhos disse...

Arrebatador!
Parabéns pelos teus poemas Celso... preenchem-nos a alma

beijos
cvb

Lídia Borges disse...

São sempre anjos antigos, estes que nos comandam e nos castigam.


Uma [feliz] revelação reafirmada na leitura de cada novo/velho poema.

Um beijo

Tania regina Contreiras disse...

Celso, um dos seus mais belos poemas!

"o sopro que fere meu rosto
é a prova da fragilidade desta armadura"...
Perfeito!
Beijos,

Jorge Pimenta disse...

quando sem chão, aprendamos a caminhar sobre as nuvens. e olha que não precisamos de alfarrábios, mezinhas ou poções mágicas; apenas de manter a sede e o desejo de beber. o mais? imagens e reflexos que apenas vibram, sem nunca se mexerem.

forte abraço, amigo celso!

Anônimo disse...

Imensamente belo, Celso.

O sopro sutil nos fere muito mais, porque nos atingem onde somos vulneráveis.

Beijinhos, querido.Amo te ler.

Ira Buscacio disse...

Dos anjos infernais, alguns me moram e eu, as vzs saio batendo a porta.
Que bom que bisastes o poema, pois é imperdível
bj grande, Celso

manuela barroso disse...

...mas como seria o poeta se não se rompesse a armadura que obscurece as noites e inferniza o pensamento?
Asas que se queimam para renascerem nas cinzas das palavraso em labaredas de poesia.
Como sempre...palavras para quê?
Poesia em toda a sua plenitude.
A sua poética preenche espaços vazios!
Fraterno abraçp, Celso

Sândrio cândido. disse...

um poema que continua atual... Estou com muito trabalho na faculdade celso, por isto as vezes não comento os blogs, mas continuo a admirar a tua poética, vez por outra durmo relendo as tuas trajetórias
abraços meu caro

cirandeira disse...

São os "anjos" que instigam o poeta,que o atormentam para que mantenha aceso o fogo da poesia!
Reeditar esse poema foi
como renascê-lo das cinzas e para
mim um grande privilégio!
Mais um de teus belos poemas,
obrigada, Celso

beijos

Daniela Delias disse...

Teus poemas são muito, muito lindos...
Bjos!

Anônimo disse...

Que belo. Saudades de passar por aqui. Me perdoe, querido. A correria tem me tomado por inteira. Bom que me sobrou um tempinho para passear aqui. Grande beijo!

Cesar Veneziani disse...

Um autor completo!

Dolce Vita disse...

Fantástico!

Ler-te é um privilégio!

Beijos
Dolce

Fernanda disse...

Deixe rachar o que já não há, desfazer por completo o abismo da (in)existência, para que enfim, a calmaria possa boiar na superfície do silêncio.

Fernanda

Andrea de Godoy Neto disse...

Celso, eu me identifico tanto tanto com a tua poesia...
é como se corresse descalça pela minha própria casa

beijos

Tiago do Valle disse...

Grandiosa. Essa é grandiosa... Muito, muito boa, parabéns!

Márcia Poesia de Sá disse...

Neste poema lido hoje ( novamente) dissestes tudo que eu precisava e queria ter dito. É lindo quando um poema nos lê...aplausos todos!e obrigada Dr. Poesia.