o outono só esquenta as vísceras enquanto dorme
só avia pecados em segredo e silêncio
enquanto ora, dissimulado, às folhas secas em escalpo de rosa
pelo espinho que murcha, mas ainda fere
o outono só aquece em olhos úmidos
seca-lhes paisagens sem lhes roubar a vida
como a impor a dor na sombra de uma translação
onde o frio flui impiedoso e ocre sobre cabeças e pés
inabaláveis ou frágeis
o outono só é quente em minha mente insana
que insisto balançar a um sol detrás de um muro
e tranco junto a sonhos findos e repaginados
quase adormecidos, imobilizados
pedaços de um passado a me planar impunes
prensados pássaros sem céu
sementes pálidas sem broto
luz que se aprisiona a espera do inverno tão próximo
não, meu outono não é quente, ele mente.
(Celso Mendes)
25 comentários:
Fez-me pensar no que cada estação esconde enquanto hiberna.
Muito bom, Celso.
Beijo.
Não, as estações não passam por nós, nós é que passamos por elas, as acelerando, alongando ou mesmo as suspendendo.
Há imagens belas nesse poema, a começar da surpreendente "escalpo de rosa".
Grande abraço.
PS. Obrigado, Celso, pelo comentário deixado lá no Roxo-violeta. Mesmo que eu não reconheça esse "genial", é bom sentir que o que escrevemos reverbera no outro, que encontra interlocução.
Penso que o outono e mesmo a mais dissimulada das estações...
Eu achei belíssimo esse poema, Celso.
bjs
Rossana
Descansei nesta musica...lindíssima...
O outono, nostalgico, nos traz memórias, nos aquece sem calor, apenas por lembrar...
Adorei, simplesmente.
Um beijo
oa.s
o outono mente! fantástico!
beijos
Este poema machuca, doi
abraços
Viajei por entre as estaçoes e percebi que todas nos mentem um pouquinho, mas cada uma nos dá algo de bom... a esperança para tentar romper os laços de um passado nao muito feliz. Parabéns Celso, seu poema é divino!!!
E assim cada estação trás a sua alegria e a sua dor... belo, beijos!
O outono, minha segunda pele, esquenta dentro de mim exibindo seus ventos. O outono, minha outra metade, inventa versos num temporal de saudades. O outono, parte de mim, acalenta o revoar dos poemas de um trovador que chora em nostalgia!!!
Beijos querido!!^^
Decerto tu rompes as significâncias triviais... e encantas sempre. Grande abraço, amigo.
sacharuk
obrigado, gente, pelo carinho...
gostaria de fazer um comentário: como médico, é muito corriqueiro, para mim, usar o verbo "aviar", colocado no texto, que NÃO se refere ao verbo haver usado sem o "H". Achei pertinente essa observação, sem menosprezar nenhum leitor, é claro.
Abraços a todos.
Celso, o seu Outono é deslumbrante.
"o outono só aquece em olhos úmidos
seca-lhes paisagens sem lhes roubar a vida!
Posso levar estes versos na alma?
Um beijo
Cada estação deixa sua sensação
Neste mundo não muito são
O outono seca as folhas, mas as palavras não
Elas no meu coração estão!
Muito belo, Celso!
Beijos. Au revoir.
Gostei do espaço, Celso! Voltarei para conhecer melhor o teu trabalho. ;)
Obrigada pela visita e pelo gentil comentário, poeta!
Um abraço,
Lou
Celso, indiquei o seu blog para o "selo do blog de ouro" lá no melodia em versos. Se sinta à vontade para pegar o selo na página (nova) selos e agrados. Beijos!
O outono pode ser quente, morno ou frio, dependendo de quem olha.
Sublime, Celso.
Beijos
Achei você no perfil do Jorge...
"meu outono é quente e por isso mente" , fui tomada por essa frase...
gosto de outonos...
bjo Celso!
Bom dia!
Passando para uma visita!
Saudações,
Carla
Uma estação inteira pousada na folha do poema, sentida na epiderme dos versos, sensações voláteis; e a dualidade do vocábulo "mente" articulado genial-mente!
Celso, seu poema é de uma beleza rara, na riqueza da metáfora que construiu sobre a dissimulação do outono, que avia substratos para a vida em solo com "escalpos de rosas" e o outono do homem que se alimenta dos sonhos despencados de uma alma ressequida e ainda assim aviando esperanças para a sua vida.
Muito lindo!
Um abraço,
Celêdian
amigo celso,
quantos outonos não vivemos nós numa só vida? mesmo sabendo-o, o calendário mente, assinando apenas um por ano. e o homem ainda à espera da revolução da meteorologia...
um forte abraço!
Az vezes precisamos de um abrigo mais quente para que o frio passe. É como quando éramos crianças e o medo fazia com que nos cobríssemos até a cabeça, depois de crescidos isso já não dá certo. Saudade dos outonos de outrora.
Beijo grande amigo Celso. Ótima semana!
Deah!
Voltei e descansei aqui, que lindeza, meu poeta.
Quanta vida se oculta no outono.
Só a poesia é capaz de alcançar tamanha beleza...
Beijos
Postar um comentário