quinta-feira, 2 de junho de 2011

Azul

Queria o azul. À medida que se encantava, adentrava-o, cada vez mais denso e escuro. Queria mais e mais azul. Queria as preciosidades bem do fundo do azul mais fundo, que o atraia, traiçoeiro. Havia verdes no seu caminho, mas era o azul que o cegava. Era o reflexo do céu na escuridão abissal. Imensamente azulado, vertiginosamente fluido, seu mundo bailava cada vez mais cobalto e paradoxalmente mais brilhante à medida que mais sombrio. Compreendeu por que o amarelo era passado, como folha de um velho livro. Entendeu por que água era essência e presente. Vida. Só não percebeu sobre a dose. Bem que o rubro na face quis alertá-lo dos vermelhos no caminho. E tudo girava, comprimindo-lhe os sentidos. Lembrou-se do dourado do sol, do sorriso materno indescritivelmente meigo, dos campos floridos, dos amigos a lhe pular nas costas, de estrelas, de estradas, de voos, dos peixes e dos monstros, que deixava para trás enquanto mergulhava até o seu limite. Atingiu o sonho, torporoso e maravilhado com toda aquela magia anil à sua volta. Sentia braços o envolverem, insistindo para que ficasse. O medo durou pouco. Adormeceu; profundamente. Depois flutuou eternamente leve, como pássaro planando um azul todo dele.

33 comentários:

Celso Mendes disse...

Uma pequena explicação:
Tinha 60 a 70% desse texto escrito e esperando um final há vários meses. Em minhas navegações de curiosidades musicais vi esse clipe do Sigur Ròs. A partir disso fiz uns retoques e dei um final que o texto não tinha.

kiro disse...

E ficou lindo! Ficou triste, suave e lindo!!!

Um beijo doce, Celso...

Unknown disse...

Querido amigo, deixando um grande abraço e agradecendo a série de comentários e elogios. Tô começando, aquilo lá no Psico Poético é apenas meu refúgio. Disse coisas que me motivaram muito e que me fizeram acreditar que, um dia, quem sabe, possa me tornar um poeta.

Grande abraço e parabéns pelo espaço! VOLTAREI!

XB

O que Cintila em Mim disse...

Alguns dias são de assombros azulados, até que asas de suave eternidade nos mostra um texto como este.

CARLA STOPA disse...

"Um azul todo dele..."Lindo, forte...

Sandra Subtil disse...

Maravilhosamente azul!Aliás, ouro sobre azul!
É muito bom ler-te ( acho que já te tinha dito, mas nunca é demais afirmá-lo)
Beijo

Jorge Pimenta disse...

tela em tons de azul sobre panos de todas as cores. algures entre a mão do homem e o olhar de deus, tudo é poema... e sempre em tons de azul.
admirável, amigo celso!
forte abraço!

Jorge Pimenta disse...

ah, uma nota adicional: compreendo que o texto tenha encontrado o seu final ao som de sigur rós :) muito bom, mesmo.
abraço renovado!

Anônimo disse...

Essa cor cria o ambiente onde todo o poeta abastece suas energias, e cria.
Lindo, Celso!

Ricardo Mainieri disse...

Bela incursão pela prosa. O azul também é minha cor preferida, assim como aprecio o ritmo dos blueseiros. Talvez seja este misto de tranquilidade e discreta tristeza que nos atraia.
Interessante este processo de dar vida a uma cor e relacioná-la de várias maneiras com as outras.
Obrigado pelas visitas lá no blog.

Abraço.

Ricardo Mainieri

Tania regina Contreiras disse...

Bom de poesia e de prosa, Celso...Um azul contagiante esse seu...
Beijos,

Cris de Souza disse...

sua prosa azulada é estonteante em todas as suas nuances.

beijo, doutor da lira!

marlene edir severino disse...

Visualizei uma aquarela no teu belo texto,
viajei nesse azul suave e triste.

Amo azul e blues. Mas adoro o violeta, que nada mais é do que uma derivação do azul (?)
(Ou vice-versa).

Um beijo, amigo!

Marlene

OceanoAzul.Sonhos disse...

O azul sonhado pode ser explorado e tristemente seu final encontrado, para sempre, além, quem sabe num sono profundo. Texto forte,video impressionante.
Abraço
oa.s

Anônimo disse...

Dependendo do olhar o azul pode trazer a alegria ou a tristeza, mas o que importa mesmo é viver as emoções com sentidos plenos, tanto as boas quanto as ruins e adormecer na certeza de ter vivido...

Belíssimo.Beijinhos.

Valeria Soares disse...

Lembrou-me de um filme que eu amei nos anos 80, acho. Passava-se na Grécia e a personagem principal era um mergulhador por apnéia. Lindíssimo.

Seu texto me trouxe de volta o encantamento com aquelas imagens.
Adorei!

Sândrio cândido. disse...

Azul, a cor do neruda

Milene R. F. S. disse...

Suave adormecer assim no azul para sempre... Belo Celso, beijos!

Daniela Delias disse...

Viajei em tuas cores...indescritível e lindo! Bjo...

Lê Fernands disse...

tamanha é a importância delas em nossas vidas, para nossos olhos, as cores: azul-infinito, amarelo-granito, verde-abissal, arco íris-colossal.

dentro e fora da gente.


bjsmeus

Wania disse...

Lindo, Celso


Adormecer em um azul todo meu... que o fim seja assim! Mergulhei fundo aqui!


Bjs,
Wania

ErikaH Azzevedo disse...

Este teu me fez lembrar dois outros, que te deixo aqui:


Nada, é azul! Como os imensos
Céus vazios...
Nada, é azul: antes de tudo,
ou a essência de tudo,
e os anelos.
Nada, é azul: onde florescem
Os anjos e os zénites
Mais perfeitos.
Nada, é azul: como a minha alma
e o nome, perfeitíssimo,
de Deus...
Negras, são as coisas. E as mãos.
Mas nada, é azul.
E o azul
Reina,
Celeste, incontestável!...

(Jorge de Amorim)

"As coisas não querem mais ser vistas por pessoas razoáveis:
Elas desejam ser olhadas de azul -
Que nem uma criança que você olha de ave."

Manoel de Barros

Aos teus vôos de dentro, mergulhos que te molham de infinitos do teu sentir... que te seja assim, não o que te falte o ar pra te afogar , mas o que te faça ansiar cada vez mais por vida.

Lindo o vídeo, mais bonito ainda o texto...

Bjo-te!

Erikah

Raquel Amarante disse...

LINDO!!!
Vejo este blog em azul...

Jullio Machado disse...

Há tanto pra dizer sobre esse texto; Dizeres, diria,enciclopédico. Mas nada tão intenso como dizer simplesmente: Profundo azul.
Abraços poéticos!

Anônimo disse...

Leminski dizia que "Amar é um elo entre o azul e o amarelo". Sonhar também deve ser!


Bom vê-lo, poeta, montando prosa como vitral!

Para cada metáfora, um caleidoscópio.

E um azul final, desde o início.

.

Grande abraço.

Canteiro Pessoal disse...

Celso, eis o passo a ser vivido por cada um de nós. Portanto, que o receio do abrir as portas da alma, desfaleça, e façamo-nos viventes livres, mesmo que, o palco sinalize facadas - cortes, marcas.

p.: Brilhante escrito!

Priscila Cáliga

Abraços

Lídia Borges disse...

O luz e a cor... Um arco-íris de esperas e o medo antes do adormecimento, do voo...
Há uma marca comum nos seus textos - o grande fascínio pela vida, pelo que ela tem de belo e de finito...

Um beijo

Menina no Sotão disse...

É meu caro, que aquarela perfeita com seus tons para se apreciar. Eu confesso que nunca tinha pensado no amarelo como sendo a cor do velho, que desbota, mesmo lembrando que é a cor das páginas dos livros, do passado que gruda em nossa pele...
Gostei.

bacio

Unknown disse...

Vou deixar escrita uma enormidade!! Às vezes apetece-me flutuar...

MARILENE disse...

Seus escritos têm força e suas palavras trazem encanto, sempre. Existe magia nesse texto.

Luiza Maciel Nogueira disse...

como desenhista,
me deleitei nessas cores
azuis, mares, céus
encantaram os olhos

bjs!

Maria do Carmo Antunes disse...

Não pude deixar de vir conferir e constatei que é imcomparavelmente maravilhoso. Aliás, querer comparar este seu texto com o meu é o mesmo que querer comparar uma monografia científica a uma redação de jardim da infância. Belíssimo texto!

Dolce Vita disse...

Tive a sensação de entrar em um sonho levada pela correnteza da palavra.

Belíssimo!


Beijos
Dolce