sábado, 9 de abril de 2011

O segredo


irrompe o dia,
assim, como por muito insistir,
a destrancafiar-se da longa noite
onde o pesadelo ungia sonhos
e a boca louca balbuciava
desconexas verdades imperfeitas, assim,
como todas as verdades.
irrompe o dia
enquanto a lua derruba sua tristeza
encharcada de nuvens, estrias de ventanias,
de sombras incandescentes; comovida com a desesperança
que resta sob esta pálida luz bipolar.
irrompe o dia
a suplicar o novo, a suplicar de novo a todas as esquinas
para que não se virem, assim,
súbito, e para que as palavras não fujam por entre caules de
árvores outonais, desguarnecidas de folhas e flores, assim,
sem registro, mudas, inaudíveis.
irrompe o dia
a desesconder esconderijos, rotas de fugas fúteis,
inúteis navegares.
irrompe o dia a farfalhar fantasias vencidas
e a destruir as máscaras intactas de um tempo pretérito.
irrompe o dia no eterno aguardo da nova noite,
definitiva.

(Celso Mendes)

28 comentários:

OceanoAzul.Sonhos disse...

E quando irrompe o dia, engrandecemos com poemas de sentir como este.
abraço
oa.s

Jorge Pimenta disse...

entre o romper da aurora e o ocaso, as palavras - brancas, frágeis, imaturas - desprendem-se dos ninhos e alçam asas num voo de infinito. o poeta renasce num novo amanhecer.
um abraço, poeta amigo!

Anônimo disse...

Uau! Maravilhoso!

Beijo.

Unknown disse...

muito lindooooooo!!!!!!!

Fred Caju disse...

Adorei o seu espaço, Celso! Muito bom!

Unknown disse...

entre um alvorecer e outro que haja vida,

a
braço

Celso Mendes disse...

Moça Azul do Oceano de Sonhos, lembro sempre de Eugénio de Andrade e seus azuis com este seu avatar. Grato pela sempre presença!

Márcio Ahimsa disse...

Irrompe o dia, a folha vírgem ainda por se desfolhar nova e viçosa, com o desembainhar do sol, com seus gumes dourados, envernizando a pele ainda nua coberta de orvalho e segredo.

Abraço amigo. Poema que irrompe viver.

Milene R. F. S. disse...

Irrompe o dia nos trazendo versos como os seus, que nos fazem sonhar... lindo Celso, beijos.

Valeria Soares disse...

Adorei tudo por aqui. Sigo.

Sândrio cândido. disse...

Um poema com imagens interessantes e reflexivas.
beijos

Celso Mendes disse...

Jorge, obrigado, amigo. Tuas palavras sempre soam como poesia. Honrado com tua visita.

Abraço!

Celso Mendes disse...

Lara, sempre que gosta, fico muito contente. Obrigado pelo incentivo. Beijo.

Celso Mendes disse...

Silvinha, obrigado pela visita. Fico feliz, viu?

beijo.

Celso Mendes disse...

Fred, valeu meu caro. Agradeço muito! Abraço!

Celso Mendes disse...

Assis, grande poeta, obrigado e um grande abraço!

Lê Fernands disse...

dias definitivos determinam...



bjsmeus

CARLA STOPA disse...

Irrompe o dia...Destruindo máscaras pretéritas e sonhando auroras, sempre, até ser noite eterna...

Suzana Martins disse...

Uauu...

Inrrompe o dia, cheio de versos carregados de ventos e brisa suave... Rompe a aurora com o todo o sentir de belas palavras...

Lindo

beijos

Celso Mendes disse...

Márcio, muito obrigado! Sua palavras soam sempre um novo poema.

abraço!

Celso Mendes disse...

Milene, Valéria, Sandrio: muito feliz com suas presenças aqui!

abraços!

Menina no Sotão disse...

Fiquei aqui imaginando as linhas do seu dia que precisa ser rompindo para dar "luz" as trevas. Talvez porque esse desenho tenha mais semelhança com os versos. A luz do dia em alguns momentos fere os versos e mais ainda o poeta que se sente atormentado com os holofotes humanos.
Mas então ouço eco da noite e o que rompe de fato são as trevas que se silenciam e a luz volta com seus sons e movimentos.
Romper é sempre duas direções, duas possibilidades. Luz, trevas... Dia, noite... Pele, sensações...
bacio

Celso Mendes disse...

Lê, Carla, Suzana: obrigado, meninas...

beijos

Celso Mendes disse...

Menina do Sotão, sua interpretação do texto me deixou encantado. A percepção de quem lê é sempre única e isto que me encanta na poesia. Muito legal seu comentário.

beijo.

Ana Morais disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana Morais disse...

A voz permaneceu muda, ficou apenas o silêncio me mostrando estradas para guardar seus versos em minha mente. Maravilhoso!

Um abraço forte da tua fã, poeta.

Celêdian Assis disse...

O dia irrompendo, destrancafiando-se da noite, como se estivesse enclausurado na escuridão e dela roubasse a chave, ávido da luz e da liberdade, "como são todas as verdades imperfeitas e desconexas" que os sonhos alimentam, ávidas da liberdade de irromper a realidade.
Celso, seus poemas tem o condão de atar o concreto à subjetidade em relativa ambiguidade, o que atiça os sentidos do leitor.
Belíssimo esse e muitos outros poemas de sua autoria.
Um grande abraço.
Celêdian

Celso Mendes disse...

Ana, obrigado, minha querida amiga!

Calêdian, fico realmente lisonjeado com seu comentário. Tenho deixado as palavras me conduzirem, não tenho muito controle sobre isso. Quando consigo que fluam, faço de conta que é um poema...