Resolvo andar em volta do quarteirão onde sempre vivi. Saio e respingam dois segundos de um cheiro de liberdade. Abaixo-me para amarrar os sapatos e a boca amarga recorda o doce por um breve momento. Entardece e o vento gelado brinca de queimar faces. Reviso a calçada esperando luzes acenderem de postes calados enquanto pardais piam alvoroçados no seu recolher. O gato amarelo de listras negras continua dominando seu território e ainda pensa ser leão. Os cães ladram, mas estão presos. E o outono vai derrubando mais folhas das árvores, que esperam, tristes, um inverno tão próximo. Eu sei que a velha esquina me observa, mas continuo a caminhar, disfarçando aquela apreensão de que o tempo insiste em querer me matar. É que às vezes me esqueço que já descobri que o tempo é uma farsa, ele não existe, que eu apenas sou. Mas não conto nada para as árvores. Volto pra casa.
CONVERSA-RESENHA COM AMANDA VITAL
Há um ano
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