o brilho seco, o sol a pino. tentou bebê-lo, mas engasgou. agora saciava-se
de sombra. agora só lembranças caleidoscópicas. então ele abocanhava
pedacinhos. cuidadosamente, grão a grão. não, não era areia de castelo, eram
outros secretos tesouros. e os olhos secavam lentamente; agora eram lágrimas de sílica em borras de
grafite. agora água era o que dela ficara, da saliva dos lábios, da
umidade íntima, do suor dos membros entrelaçados, dela, sim, dela toda. era o que bebia. abriu
os olhos devagar, olhou a velha janela e algum mundo lá fora, mirou a pele
enrugada e ponteada de melanina de seus braços. que tem aqui para mim? — pensou
— e cerrou as pálpebras novamente, rumo ao mundo que enfim adotara. na boca um
sorriso raso, quase imperceptível; na mente um infinito pretérito a se renovar
continuamente.
Celso Mendes
Um comentário:
Desloquei-me: entrei e saí várias vezes do texto, de mim, do outro. Lambuzei-me de pó e saliva e suor, sujei-me toda para não ver,
não sentir aquela sombra como pele
incrustrada tapando o amanhã dos
meus olhos. Lembranças que às vezes nos paralisam...
Um texto rico em imagens e sentimentos, que nos incita a fazer várias leituras!!!
Beijos, poeta!
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