ou dos restos mortais
daquelas fotografias cravejadas de olhares
das abstinências que sobem por paredes escorregadias
e congelam resquícios de lucidez
ou, quem sabe, de simples amores de prateleira
talvez resolva apenas pendurar duas gotas de sal neste cadarço
antes de amarrar minhas mãos e desatar a minha língua
aparar a grama enquanto rolam ilusões
redefinir conceitos inexistentes
realçar bocas pintadas de libido
resolver equações geométricas
ou pequenas questões de física quântica
queria mesmo era escrever um poema sem tema
dizer das impurezas de verdades inconcebidas
desacreditar da necessidade pragmática da escrita
rimar palavras pobres com idéias ricas
deslizar alguns símbolos gráficos sobre o branco
manchando-o com frivolidades incontestáveis
rifar pensamentos inúteis
e apenas
fluir
CELSO MENDES
Junho de 2010
20 comentários:
Celso, isso é um escândalo:
"queria mesmo era escrever um poema sem tema
dizer das impurezas de verdades inconcebidas
desacreditar da necessidade pragmática da escrita
rimar palavras pobres com idéias ricas
deslizar alguns símbolos gráficos sobre o branco
manchando-o com frivolidades incontestáveis
rifar pensamentos inúteis
e apenas
fluir."
Este é um anseio de um poeta traduzido brilhantemente em versos. Eu a-do-rei!
Beijos,
Celso, prazer!
O Jorgito me é um querido, não bastasse sua poética repleta de delírios tão humanos e que me tonteia, e que me ensina a poetar, ele ainda proporciona achados encantadores, como este Sentidos e Direções.
Obrigada pela visita e volte sempre!
BJ
E quando vc flui sem amarras é ainda mais lindo... as palavras se encadeiam sem um objetivo e talvez por isso mesmo ainda mais profundas! Andei ausente por um bom tempo, toda atrapalhada, negligente com o meu blog e com o blog dos amigos, mas agora estou voltando aos poucos, e como é bom estar aqui de volta, junto as tuas palavras sempre tão inspiradas! Um grande beijo no seu coração amigo, Milene.
emocionado com teu texto. Obrigado Celso!
acho que esse é o grande mister da poesia: fluir, simplesmente fluir
abraço
poema sem tema só os loucos dizem...quando olham pra coisa nenhuma e dialogam (fluem) como quem conversa com um mundo sem ninguém...
Teus textos me põem a cismar...
Beijinho com admiração e carinho eternos, Celso poeta amigo!
celso, meu querido amigo-de-palavra,
a arte poética desenterra-nos todas as dúvidas e inquietações, porque a palavra é aquele que a diz. e não há nada mais verdadeiro do que o poeta a olhar-se num espelho caiado de reflexos, que lhe trepam os abismos e os anseios em direção à boca que tudo pode e onde todos os impossíveis se tornam segredo desvendado.
fantástico o texto; vejo que o tens publicado. parabéns, pois.
um forte abraço!
p.s. vejo a minha querida ira por aqui e como isso me deixa feliz. ela é daquelas pessoas que escrevem a valer.
Um poema sem tema seria demais! digo é! fazer das palavras um concerto de poesia não é pra qualquer um. beijos
E, meu querido amigo!
Fiquei desarmada perante tanto pseudo-pragmatismo tanta verdade, tanta lucidez que ofusca todo o brilho que possa emprestar ao meu pensamento para poder expressar-me mais "matematicamente". E disse pseudo-pragmatismo, porque é das mais belas poesias que tenho lido. Pela autenticidade de nos sentirmos agrilhoados a fonemas e morfemas incapazes de dar eco ao nosso íntimo!
Peço...que deixes fluir, assim...Só!
Terno abraço
Acho que basta eu dizer que amo sua poesia, Celso.Ela conversa comigo de uma forma que nenhuma outra faz.Me surpreende na medida exata do que eu sinto e tenho dela em mim.Me sinto livre e isso já é muito...
Um beijo, querido, da mais pura admiração.
E o poema fluiu semeando palavras sem temas e profundas.Parabéns.
...às vezes apetece "rifar pensamentos inúteis". És imperdível com a tua forma de te "achares"!
Aprecio demais Manoel Carlos.Daí que me lembrasse de um dele para me justificar."Uso a palavra para compôr os meus silêncios"!
Tua poesia tem borboletas nas palavras!
Boa semana, querido amigo
Bji
Celso, um poema sem tema, sem puderesmonem temores, um poema latente, vertente do sentir intenso e também me bastaria...
Beijos e sempre bom estar aqui contigo, boa semana.
Carmen
... fluir sem formatações!
beijo, doutor da lira*
Deixar acontecer, simplesmente,
sorver o instante...
E esse teu
"aparar a grama enquanto rolam ilusões"
é lindo demais!
Abraço, Celso!
Pois esse teu anseio foi alcançado,
tua língua flui como a água que vai
deslizando sobre rochas, ultrapassando obstáculos até juntar-se às águas de um rio de palavras que correm até o leitor
sedento de poesia!
A poesia não requer necessariamente
um tema já que ela em si é o próprio tema, a poesia só precisa
fluir para os corações e mentes propiciando-lhes prazer e reflexão!
PARABÉNS, Celso, que continues fluindo até nós :)
beijo
Celso,
maravilhoso!
Um poema "atemático", porém "sintomático".
Senti um tanto de sinapses em meus neurônios, fez até um barulhinho interessante, desses que se ouvem quando as palavras falam baixinho, pois nem de volume precisam, já que gritam na alma.
Amigo, sempre estou por aqui, embora nem sempre comente. Sou apaixonada por seus escritos, sinceramente.
Beijos!
Teu blog é intenso e literariamente perfeito!!Quando o li as metáforas do teu poema dançaram na minha imaginação surrealista.
Fernanda
E tu fluis e nós fluimos contigo nestas palavras que são suspiros d'alma... muito bom.
beijos amigo
cvb
Genial. Mesmo tratando sobre o nada, conseguiu escrever tudo. Genial, sem palavras...
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