quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Abstração

uma contação de vazios de agora
absorve-me dos instantes
enquando escuto a memória
que escorre
a constelar água d’olhos
com reflexos
de todo um existir

há um hiato 

onde o silêncio
desenha uma  vida
– mínima vida minha –
em fração imensuravelmente atemporal
– absoluta

enquanto se equilibram passos
isentos de peso
vertiginosamente voláteis
enquanto voam
aqueles pássaros
sem asas
sem nuvens sem horizontes
enquanto dedos cintilantes
percorrem
a carne a palavra a essência dos lábios

enquanto se percebe
que viver adere poeira e fogo e água
e que a pele cala fundo
– bem lá – onde não mora a razão
cada toque de luz
cada sombra cada gota
e a rubra mudez de cada pecado

(Celso Mendes)

20 comentários:

Celso Mendes disse...

Um texto antigo retomado. Tentei adaptá-lo para o “Amigo Oculto” lá do Trem da Lira de minha querida Cris de Souza, mas achei que não coube na alegria do tema (Circo). Então repaginei o texto novamente e achei adequado para postá-lo como o último do ano, época de tantas retrospectivas, já que fala de memória e do vivido. Aproveito e deixo a todos que compartilharam comigo deste espaço e de toda blogosfera meus votos de felicidade e paz na contínua renovação de mais um ano que se iniciará.

Um ótimo 2012 a todos!

Daniela Delias disse...

Que lindo...
Bjos e desejos de um lindo final de ano, meu amigo!

Joelma B. disse...

Finaliza o ano com um belo texto, Celso...
Um novo ano cheio de poesia e ótimas companhias a você!!

Beijinho com admiração!

Tania regina Contreiras disse...

Nada como findar um ano lendo algo que desperta muiras reflexões, Celso, excelente!

"viver adere poeira e fogo e água"
Beijos,

marlene edir severino disse...

Um belo poema, Celso!

E tomo a última estrofe, que finaliza tão lindamente teu poema, também porque sintetiza esse meu instante, dá um especial toque:


"enquanto se percebe
que viver adere poeira e fogo e água
e que a pele cala fundo
– bem lá – onde não mora a razão
cada toque de luz
cada sombra cada gota
e a rubra mudez de cada pecado"

Muita poesia em 2012!

Beijo

OceanoAzul.Sonhos disse...

Viver adere sentires, que tão bem você expressa em poesia. Magnifico Celso.

Tenha um excelente 2012
beijo
oa.s [cecilia]

Adriana Riess Karnal disse...

Celso,
adorei essa passagem: " viver adere poeira e fogo e água", viver é essa natureza toda, esses elementos que ora incendeiam ora acalmam. feliz 2012!

manuela barroso disse...

E assim a vida vai comportando todos os vazios, ora feitos de silêncios ruidosos, ora de silêncios tristemente adormecidos no tempo, na volatilização de existências apagadas que nem fogo aqueceu, nem nem água apaziguou.
Viverá secretamente "a rubra mudez de cada pecado"!
Como sempre, desconcertante, Celso.
Um FELIZ 2012.
Aos dias que findam o 2011, o meu obrigada por ter-te encontrado, amigo!
Muitos bjis

Unknown disse...

devo dizer que a emenda não afetou o soneto quer dizer o poema. se não tivesses feito a ressalva não perceberia esses dois tempos dos versos: a carne está no cerne,


abração

Anônimo disse...

Tudo cala fundo na alma, pois ela se alimenta de tudo... quer sentir tudo... Seus poemas são belíssimo, querido.

Bom Ano.Que em 2012 estejamos todos juntos novamente.

Beijinhos.

Jorge Pimenta disse...

querido amigo,
nestes instantes de olhares retrospetivos, à espera do que de o novo o tempo nos prepare, faço o balanço de que em mim aderiu "poeira e fogo e água", preenchendo vazios, iludindo precipícios. em todos os pedaços de vida, esteve presente a poesia e a amizade. aqui, toco-os a ambos.
um forte abraço e votos de um novo ano extraordinário, com amizade e poesia. que a tua escrita a todos continue a acompanhar.

Sândrio cândido. disse...

gostei da temática e como sempre as imagens são de uma leveza que nos pesa
abraços

Lídia Borges disse...

Em tempo de balaços
"cada toque de luz
cada sombra cada gota" nos torma nais humanos, mais capazes para enfrentar o futuro.

Um 2012 pleno de Poesia.

Beijo meu

Domingos Barroso disse...

Celso, feliz 2012
e que a Poesia
nos abençoe
...


forte abraço,
irmão.

Fred Caju disse...

A abstração foi tão concreta pra mim. Abraços!

Unknown disse...

Excelente!

Vazios de agora e vazios de toda hora
que em seu caso são preenchidos com belos poemas como esse.

Aplausos, Celso!

Beijos

Mirze

Luiza Maciel Nogueira disse...

final maravilhoso. me lembrou um tanto de Pessoa com Vinicius, ou seja, maravilhoso! beijos

Wania disse...

Celso,


A vida é mesmo esta amálgama a nos preencher os vazios do tempo entre o que foi vivido e o que ainda esta por vir.




Linda poesia e o desfecho então, belíssimo!


Tudo de melhor pra ti e os teus em 2012, meu amigo!
Bjão.

Janaina Cruz disse...

Celso, haveremos sempre de ter alguns doces ou dolorosos rompantes de medir presente e passado...

Eu gostei de mais do seu blog, sigo-o... Abraços

vanessa carvalho disse...

Que talento!

Flores.