Aqui, deste setembro que não tem me deixado tempo para escrever novos textos, busco, de um setembro antigo, algo que preencha este espaço que se quer de letras.
Setembro prossegue-me vago. Por ser um cultuador de palavras simples e frases rasas, dessas que descansam em beira de riacho, não compreendo bem o porquê. Mas sinto. Enquanto lavo meus olhos na poeira, aguardo a chuva que leve as folhas secas de agosto. Aprendi que retas perfeitas não existem, mas não consigo evitar a curiosidade de saber onde estão os pontos à frente. Isso machuca, sei bem, como sei também ser impossível evitar a dor.
Houve um inverno que me roubou o vermelho e com ele fugiu o arco-íris das tempestades de verão; perdi uma flor. Marcou. O pó foi a cor que passou a me pintar. Até as maritacas que me acordavam toda manhã andaram ausentes. Agora volta, mais uma vez, a promessa de primavera. Já nem sei mais se acredito em primavera. Talvez devesse.
Mas um setembro já me deu o que mais amo e outros também me trouxeram presentes. Sempre esperarei algo de setembro. Quem sabe este me umedeça novamente. Mantenho a água na memória. Meus olhos cansados permanecem abertos, continuo amanhecendo e não perdi essa mania de sonhar. Acho que ainda acredito em primaveras.
(Celso Mendes)
Setembro prossegue-me vago. Por ser um cultuador de palavras simples e frases rasas, dessas que descansam em beira de riacho, não compreendo bem o porquê. Mas sinto. Enquanto lavo meus olhos na poeira, aguardo a chuva que leve as folhas secas de agosto. Aprendi que retas perfeitas não existem, mas não consigo evitar a curiosidade de saber onde estão os pontos à frente. Isso machuca, sei bem, como sei também ser impossível evitar a dor.
Houve um inverno que me roubou o vermelho e com ele fugiu o arco-íris das tempestades de verão; perdi uma flor. Marcou. O pó foi a cor que passou a me pintar. Até as maritacas que me acordavam toda manhã andaram ausentes. Agora volta, mais uma vez, a promessa de primavera. Já nem sei mais se acredito em primavera. Talvez devesse.
Mas um setembro já me deu o que mais amo e outros também me trouxeram presentes. Sempre esperarei algo de setembro. Quem sabe este me umedeça novamente. Mantenho a água na memória. Meus olhos cansados permanecem abertos, continuo amanhecendo e não perdi essa mania de sonhar. Acho que ainda acredito em primaveras.
(Celso Mendes)
19 comentários:
Que texto lindo, Celso. Realmente setembro é um mês vago...não sei se por causa do vento, da poeira ou a falta de chuva que assente o solo... parece que fica tudo meio no ar a espera de algo que o complete.
Que venha a primavera.Beijinhos.
Eu tenho uma teoria de que embora todas as estações nos tragam lembranças, as mais densas estão concentradas no inverno. E mais : enquanto cada verão, outono e primavera são únicos, o inverno é sempre o mesmo, o velho inverno que volta todos os anos.
Se eu estiver certa, esse teu vermelho volta um ano desses.
;)
Um beijo, Celso.
Esplêndido!
[é um setembro abençoado]
forte abraço,
camarada.
Celso, mergulho em suas palavras e sinto como é agradável a sensação de caricia que elas provocam na alma.
Muito bom!
um beijo
oa.s
Agradeço pela leitura de todos ao tempo em que me desculpo, pois ao reler o texto percebi que, durante sua edição, não sei em que momento, havia sido suprimido um trecho. Reposto agora com as devidas correções.
transpassa o perfume lirico no texto.
Setembro é mesmo um mês cheio de inspirações caras aos poetas como você.
abraços
setembro é um mês benfazejo, de muitos nascimentos, há algo que brilha, algo que desperta e incita,
abraço
ah, setembro e seus solos! o tempo que se abre pode ser invernal...
beijo, meu querido doutor da lira!
Belíssimo texto. Tenho uma ligação com setembro que marcou minha memória afetiva de uma forma única. Talvez setembro seja muito mais do que um mês: um "arquétipo" de grandes surpresas.
Sempre bom demais ler-te.
Beijos
Todo o poeta acredita na primavera.
Deste lado setembro é um tempo descendente a caminho do outono, morno e muito romântico. Desse é promessa de manhãs claras e perfumadas.
Maravilhosa esta sua prosa poética em viagem por setembros passados.
Um beijo
Adoro as suas reedições, vou te conhecendo e apreciando ainda mais as tuas letras...
Setembro chega em mim com tantas expectativas que até a primavera esqueceu de trazer os pássaros para o quintal... rs
Beijos querido
Ja reserva a minha copia em Dr. hehehe... forte abraxxx
querido amigo,
regresso com sentido a todas as direções para tocar o equinócio de um setembro que não começa nem acaba nas folhas secas do calendário. há tanto que se desprende das nossas mãos para tornar a voltar. a dúvida é sempre a que mais inquieta: o que hão elas de encontrar no regresso a que chamamos primavera?
abraço, amigo, regozijando-me com a feliz coincidência de sentirmos, ambos, e quase que em simultâneo, o arrepio breve de todos os nossos setembros.
Então meu caro, setembro parece passar por mim. Os dias carregam em suas margens qualquer coisa de agosto e depois parece ter qualquer coisa de espera da minha parte por outros dias, outros sentimentos. Não sei, fico feliz que você espere algo de setembro. Eu apenas sinto-o passar por mim...
bacio
rosa após rosa, resistimos...
texto que revolve nosso solo!
quem nunca perdeu uma flor?!
um beijo.
É... é impossível evitar a dor. ainda bem que existe a arte.
Que texto mais lindo, Celso, quanta esperança, quanta delicadeza, que rara sensibilidade.
Acho que, como vc, sempre esperarei algo de setembro.
Beijokas e uma semana linda e produtiva.
Celso, por ter gostado tanto, publiquei num dos jardins, para que outros se deliciem.
Está com os devidos créditos!
Parabéns! Lindooo...
Priscila Cáliga
Amo as poesias que se vestem de prosas. Não sei também se acredito na primavera. É esperar pra ver, procurando não criar expectativas rs... Demais, Celso!
Pois podes crer que elas existem, continues acreditando e escrevendo estes textos tão primaveris.
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